O economista da Farsul, Antônio da Luz, palestrou na noite de quinta-feira (13) no Salão Nobre do Sindicato Rural de Tupanciretã, Jari e Quevedos (SRTJQ) e concedeu entrevista ao Jornal Manchete Digital (JMD). Entre os temas abordados, destacou-se a relação entre o campo e a cidade, além de questões econômicas ligadas ao agronegócio.
Ao ser questionado sobre a alíquota de 0,2% prevista no Projeto de Lei (PL), que busca alternativas para financiar o setor agropecuário no Rio Grande do Sul, Antônio da Luz ponderou que a proposta pode representar um alto custo e que há riscos de sua deturpação ao longo do tempo.
“Se tivéssemos sempre governos austeros, organizados e preocupados com as finanças públicas, talvez fosse viável. Mas a história mostra que boas iniciativas acabam sendo distorcidas. Não é uma questão de ser contra ou a favor, mas sim de debater melhor o tema”, avaliou.
O economista também ressaltou que o agronegócio não pode ser dividido em categorias isoladas, como pequenos, médios e grandes produtores, pois todos enfrentam desafios semelhantes. Segundo ele, questões como clima e financiamento impactam igualmente a produção, independentemente do porte da propriedade rural.
O impacto do agro na economia urbana
Outro ponto enfatizado por Antônio da Luz foi a interdependência entre o agronegócio e a economia urbana. Ele explicou que, ao contrário de décadas passadas, a agricultura moderna depende diretamente da cidade para viabilizar sua produção, seja por meio de insumos, tecnologia, serviços ou crédito financeiro.
“Hoje, não existe agricultura sem a cidade. O desenvolvimento genético das sementes acontece na cidade, as máquinas agrícolas são fabricadas na cidade, os insumos químicos e fertilizantes vêm da cidade. O dinheiro do financiamento é obtido em instituições financeiras urbanas e até os mecânicos que consertam colheitadeiras e tratores vêm da cidade”, argumentou.
De acordo com ele, essa conexão também fica evidente nos impactos econômicos. “Quando há uma boa safra, os benefícios são compartilhados. Todos que participam do processo são remunerados. Mas quando há perdas, todos sentem os efeitos. Isso reflete no comércio, nos serviços e até no setor imobiliário. O produtor que teve um prejuízo vai gastar menos em restaurantes, salões de beleza e no comércio em geral. Isso trava a economia”, explicou.
Para Antônio da Luz, não há mais separação entre os interesses do campo e da cidade, pois ambos fazem parte do mesmo sistema econômico. “Não existe mais ‘eles da cidade’ e ‘nós do campo’. Só existe ‘nós’. Eu sou economista, trabalho em Porto Alegre, minha empresa fica na Avenida Carlos Gomes e atendo produtores rurais. A renda que eu gero vem do agro. Esse é um setor que movimenta a cidade tanto quanto o campo”, concluiu.
TODOS CONTRA A DENGUE