"Brasil, o país do futebol.". Eis uma frase conhecida por todos os brasileiros, e que poucos de nós contestariam (mesmo aqueles que sequer gostam do esporte). A emoção, a vibração e a adrenalina que o futebol oferece talvez expliquem essa paixão; junto, é claro, das diversas possibilidades táticas e técnicas, das infinitas obras do acaso que uma partida proporciona. Mas eu quero conversar sobre como nos comportamos em um jogo de futebol. Obviamente, torcemos para que nosso time ganhe. Mas, a que custo? Vale gol de mão, em impedimento, em um pênalti mal marcado?
Pergunte a um torcedor doente, que não deixa de ir ao estádio em uma partida sequer. Que já fez loucuras para assistir seu time e senta sempre à beirada do campo. Ele provavelmente dirá que sim, que vale tudo para ganhar; vale até burlar as regras, afinal, o importante é o resultado, é isso que fica. Agora, pule alguns setores, vá até as cadeiras, as arquibancadas mais altas. É provável que lá estejam torcedores mais sensatos; que sentirão um gosto amargo pela vitória que não obedeceu às regras, que veio de forma injusta. Eles não terão muito prazer em comemorar uma conquista que deveria ter sido invalidada.
Ora, esse comportamento em relação ao futebol depende da paixão de cada um. A ilegalidade no futebol é relativamente inofensiva. Não há casos de tragédias reais envolvendo um time que, tendo feito um gol legítimo, viu a bandeirinha levantada assinalando tiro livre indireto. Nunca ninguém morreu por consequência disso. O problema é quando o fanatismo ultrapassa o esporte.
A escolha entre ser fanático e justo está no dia-a-dia, nas interações sociais e profissionais, na maneira como nos relacionamos com a coisa pública e com a nossa vida privada. Enfim, ela está na política (do grego politikos, significando 'algo relacionado à organização, à administração de um grupo social': nossa família - que mesmo em nossa casa é necessário conversar e chegar a um resultado que possa contemplar a todos: política).
Assim como no futebol, na política também torcemos para o nosso time. Balançamos bandeiras, entoamos cânticos, vestimos camisetas e colamos adesivos. Vibramos com as vitórias e sofremos nas derrotas.
Assim como na política, no futebol também se pode fazer uma baita campanha e perder no dia da final. Ainda: podemos ter um time encaixado e sermos os favoritos, mas, se do outro lado há apenas uma estrela que souber aproveitar algum dos nossos pontos fracos, o adversário pode nos ganhar.
A questão é que o futebol é um entretenimento; uma maneira de expressarmos e compartilharmos nossas paixões, nossa euforia, nosso êxtase. Torcemos e, quando o árbitro apita aos 48 do seg tempo (ou depois de uma crise de choro e/ou um trago), vamos para casa viver nossas vidas, alheias ao futebol. Ora, não é assim com a política: depois que a urna trila avisando que terminamos de votar, também voltamos para casa. Só que não vivemos alheios à política.
A política (a organização) da nossa casa é, em escala reduzida, a política (a organização) do bairro em que vivemos; esse, é uma escala reduzida da política (organização) da cidade; e assim por diante. Se o resultado do futebol foi por métodos sujos, ele é só um jogo. A sua justiça até pode ser ignorada (ela assim o é mesmo nas condições de uma partida sem ilegalidades, quando o time que jogou menos faz o gol em um chute lotérico que desviou). Mas, se a política (organização) acontece por meios escusos, então a ilegitimidade vai se fazer notar em uma precária administração.
Leo P.R.