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O poder dos homens

O poder dos homens, presente em todos os lugares e instigado em todas as pessoas, ensina o não-mérito. Ensina a ver mulheres como seres naturalmente inferiores

Publicada em 08/11/20 às 09:39h | Leonardo Reis  

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- OPINIÃO -




Nos últimos dias, ocorreram duas situações que deixam transparecer o poder dos homens - um poder reinante ao longo da história, um poder que busca o Absolutismo. Tratam-se da conclusão do julgamento do caso Mariana Ferrer e a situação político-eleitoral dos Estados Unidos.

 Não sou da área do Direito ou especialista em Política Internacional. Não vou entrar no mérito técnico das questões. Mais do que isto, quero entrar na questão do não-mérito. Naquilo que faz os homens pensarem que, só por seres homens, têm mais direitos, têm mais capacidade: têm poder.




 Além do ato de estupro em si, as imagens mostradas pelo site The Intercept Brasil e o desfecho do julgamento revelam a profunda certeza que os homens têm quanto a estarem em posição de controle, de definição do certo e do errado. Para os homens, o mundo é que deve ser adaptado para suprir suas necessidades e convicções. Não existe a possibilidade de uma visão diferente oferecer a verdade. “A mulher tinha fotos com roupas curtas.”, “A mulher tinha fotos com o dedo na boca.”, então ela estava se oferecendo ao homem. 


 "O erro sempre está no comportamento feminino, quando este não se adequa ao que o homem julga correto em determinada situação".



 Ora, o homem é estimulado a objetificar a mulher desde criança (na minha infância, eram comuns as propagandas de tv que associavam a cerveja à possibilidade de sexo fácil). O homem é criado para enxergar a mulher apenas como um corpo digno de desejo sexual. Outros exemplos disso são expressos em alguns programas de televisão atuais, onde a mulher – bailarina, atriz, assistente de palco – é silenciada; onde ela não tem opinião e sequer pode expressar seus gostos; está ali apenas para alavancar a audiência às custas da exploração visual do seu corpo. O poder dos homens vê a mulher como algo que existe apenas em sua função, para seu usufruto.



 O advogado de defesa parece se utilizar dessa visão ‘absoluto-machista’ para desqualificar Mariana Ferrer; pois sugere que é função da mulher se comportar, se vestir de modo que não instigue o homem a expressar seu poder. Tudo gira em torno do homem: é dito que Mariana tem como “ganha-pão” a desgraça dos outros (no caso em específico, do acusado de estupro), como se a própria vida da mulher se estruturasse segundo a relação que ela, mulher, estabelece para com os homens. A mulher é despida de seus sentimentos, de suas ideias, de suas vontades, de suas peculiaridades: enfim, de sua humanidade.

 O poder dos homens faz das mulheres um instrumento, um objeto que reforça e legitima a perpetuação desse poder. E ele vai além. O poder dos homens é tão absoluto que faz muitas mulheres compactuarem com ele. Esse poder não se manifesta só no script de programas televisivos retrógrados. Ele inclusive chegou à telinha porque já era naturalizado dentro da sociedade. Porque a nossa sociedade se estrutura conforme o poder dos homens.

 A ideia de Donald Trump virar presidente teve, em parte de seu embasamento, o fato de ser o empresário um homem poderoso. Tão poderoso a ponto de usar seu poder ‘absoluto-machista’ não só sobre as mulheres, mas também sobre outros homens. Sendo o masculino a régua, o ideal, se consigo subjugar outros homens, então meu poder atinge um patamar ainda maior.

 Obviamente, no processo de subjugar outros homens, também mulheres são afetadas. O comentarista político e comediante Jordan Klepper realizou algumas vídeo-entrevistas em comícios e outros eventos de eleitores favoráveis à eleição de Trump. Lá encontra-se uma verdadeira ode ao poder dos homens e uma demonstração de como as mulheres sempre são as mais afetadas por ele.



 Comecemos com as eleições passadas, quando o adversário foi Hillary Clinton (uma mulher). Nos comícios dessa eleição haviam camisetas se referindo à Clinton com palavras de baixo calão (“Trump that bitch!”) e também associando sua capacidade política com temas sexuais (“Hillary sucks, but not like Monica”). Além disso, um dos argumentos utilizados – inclusive por mulheres – era de que uma mulher era incapaz de comandar um país por causa de seus... hormônios femininos...

 Na eleição atual, é o próprio poder ‘absoluto-machista’ que está sendo ameaçado; por isso, um ataque aos métodos democráticos eleitorais foi iniciado. O poder ‘absoluto-machista’ não aceita que o mundo funcione em torno de outros eixos. Não aceita a derrocada.

 O poder dos homens, presente em todos os lugares e instigado em todas as pessoas, ensina o não-mérito. Ensina a ver mulheres como seres naturalmente inferiores, cuja vida é em função dos homens; ensina a ver homens como seres naturalmente capacitados, melhores que as mulheres e indignos de contestação.






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