A música é a arte mais direta: entra pelo ouvido, vai ao coração e manifesta-se na alma, segundo Crys Rangel, poeta e produtora cultural. Compor uma música é criar, produzir ou inventar algo. Não restam dúvidas de que o autor, nessa tarefa, coloca muito de si, dos seus sentimentos e de sua sensibilidade poética e artística.
A consagração desse ofício é uma canção que agrade as pessoas e, de alguma forma, lhes proporcione uma conexão emocional. De preferência, que estimule nossos quatro neurotransmissores: dopamina, endorfina, ocitocina e serotonina, responsáveis por sensações de felicidade, satisfação e relaxamento.
Agora, imagine compor uma canção que se transforma em “Hino” — uma manifestação artística e cultural significativa, símbolo de um povo, de uma cidade. Amândio Vaz Gomes, como vocalista; Lenoar Batista (in memoriam), na gaita; e Rivail Pires de Almeida, no violão, integrantes do Grupo Musical “Trio Guarany”, viveram essa emoção. Em 1974, eles gravaram um compacto duplo em uma gravadora de Porto Alegre e eternizaram: Tupanciretã, Tupanciretã/ São lindos os encantos teus/ Ó terra da mãe de Deus.
Segundo o mestre Amândio Vaz Gomes, que hoje reside em Caxias do Sul, mas mantém o coração em sua terra natal, tudo começou em 1972, quando cursava o último ano de Técnicas Contábeis. Durante uma aula, o querido e muito conhecido professor de português, Tamoyo, precisou ausentar-se e deixou os alunos livres para realizar qualquer tarefa.
"O artista e músico que habitava Amândio falou mais alto. Ele usou esse tempo para escrever e compor, com astúcia e musicalidade, uma canção que retratasse sua terra natal, seu ninho, sua cidade".
Ao retornar, Tamoyo perguntou quais atividades os alunos haviam feito. Amândio mostrou a poesia que escrevera. O professor leu em silêncio e chamou outro colega, o professor Dario Cardoso, conhecido declamador, para recitar o texto. Amândio recorda que foi uma das noites mais felizes e emocionantes de sua vida. Até hoje, nutre profunda gratidão e respeito por esses dois mestres e ainda sente na alma a alegria dos aplausos recebidos. Assim nasceu o hino da nossa amada Terra da Mãe de Deus.
Foi apenas em 1984, enquanto residia em Campo Grande, que Amândio recebeu uma correspondência oficial da prefeitura de Tupanciretã. Com grande emoção, tomou ciência de que sua composição havia sido oficializada como o Hino de Tupanciretã, por meio de uma moção do Poder Legislativo. A lei foi sancionada pelo então prefeito Miguel Chiapetta Cardoso, amigo e ex-colega de Amândio na Cooperativa Rural Serrana.
Ações municipais nos últimos anos têm ressaltado a importância desse hino, incluindo sua representação em arte urbana no viaduto férreo do Fenner. Este ano, o hino ganha uma nova roupagem musical pela Orquestra Nestor André Mantese da AMEART, com interpretação de André Jensen, vencedor incontestável do 3º Festcantu. O novo arranjo será apresentado nas festividades dos 96 anos do município, na Praça Central Cel. Lima, neste sábado, dia 21.
Ludwig van Beethoven dizia que “a música é o vínculo que une a vida do espírito à vida dos sentidos.” Obrigado, Amândio Vaz Gomes, por sua letra que se tornou nossa história. Que a música e suas doces inspirações continuem a se manifestar em almas artísticas como a sua, iluminando mentes e aquecendo corações.
TODOS CONTRA A DENGUE
