Não é falta de assunto, mas tenho profunda relação com sapatos, talvez não seja só EU a se perguntar, quantas histórias são possíveis sobre eles. Isto pode ser pouco pedagógico, mas, para mim, e penso que a outros, um singelo par, pode ter criado sensações de plenitude e perfumados momentos de vida.
Hoje meu número é 38, na infância usava doações das famílias abastadas, onde minha mãe prestimosa trabalhava como faxineira. Imaginem a dificuldade de encontrar calçado que bem servisse nestes pés de quase anão. Sempre grande luta quanto aos dois ou três números maiores, compensados por uma meia nas pontas, portanto, sapatos desalinhados e desconfortáveis, meus conhecidos de tempo.
Cresci com a determinação internalizada na alma de comprar calçados justos e pelo próprio esforço, depois que consegui, meu produto de consumo.
Li uma síntese linda na net sobre sapatos e amores, onde afirmam que o melhores são que machucam. Que quanto mais nas alturas eles nos elevam, mais duro é voltar a ter os pés no chão, quando tudo termina.
Por isso é que sapatos e amores precisam ser do número certo, pois os frouxos e maiores, deixam espaços vazios, abandonam os pés e se fazem perder pelo caminho. Os menores sufocam, fazem sangrar e causam feridas pela falta de liberdade. De ambos os jeitos exigem cuidados nos passos, dificultam a caminhada.
O quase serviu, não contenta, tanto sapatos como amores não mudam seu jeito de ser só porque estamos apaixonados por eles. Eles precisam ser confortáveis, companheiros e caminhar junto, leve, sem dores. É claro que uns se desgastam com o tempo, outros cedem e se rompem, tudo certo!
A vida deve continuar por sapatos e amores que não machuquem e que possam nos levar mais longe.
Até aqui comentamos frivolidades e ingenuidades, agora. “Cada um sabe onde aperta o seu sapato”, é mais profundo, nem o mais hábil dos sapateiros é capaz de sentir, porque isto é íntimo, é só nosso, de cada um.
Somos teimosos, e não perdemos a mania de dimensionar as dificuldades dos outros, muitas vezes nem sabemos da metade da missa rezada, dos medos, angústias, limitações do outro, e vá pitacos e interferências.
Esta história de colocar-se no lugar do outro, é bonita, nem sempre convencional, em vários momentos e circunstância somos incapazes de sentir as dores do outro, diferenciamo-nos sobre sentimentos que nos movem a agir, reagir e responder conforme as emoções.
Por isto tenho certas restrições a esta questão de representatividade, mesmo que a causa seja conjunta, prevalece o individual, a perda, a dor, angústia e descontentamentos, ou o inverso destas posições é muito de cada um.
“Cada um sabe onde aperta o seu sapato. ”
Devemos participar mais das coisas, do bairro, da cidade, colocar para fora, expor aos outros o nosso real, vejo muita gente falando e pedindo pelos outros, também protestando e reivindicando, ou seja, tomando as dores que não são suas.
Se democracia é ampla liberdade, não seria esta representação forçada, inadequada, ou, apossar-se de um sapato que não é seu, de número errado, sem a correlação linda com o amor que não deve ser frouxo nem apertado.
Enfim, sapatos e amores quando os temos apropriados e certos é ponto chave da felicidade. Que cada um concentre mais nos seus e pare de se achar o sapato certo do pé torto do outro. Abraços