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Nesta semana, mais precisamente no dia três, foi comemorado o dia Internacional das Pessoas com Deficiências. Eu acho muito válido, que esses dias não sirvam para comemorações e sim datas reflexivas, dias de ações e alerta para o assunto em questão, sejam eles: dia da Aids, dos diabetes, das mulheres, da ação de graça, do racismo e lógico das pessoas deficientes.
Para nós humanos ditos “perfeitos no físico e na mente” já ta difícil viver, por pouco mais de nada se criam grandes conflitos e a consequência é o desconforto social com estreitamentos nas relações pessoais. Imaginamos para um ser humano limitado no falar, andar e pensar. Sabemos que a vida cobra caro o preço para que deficientes possam ser incluídos, muitos dentro de seus próprios lares.
Para lidar com deficientes não basta ser apenas gente, precisa-se uma entrega digna dos anjos e espíritos iluminados.
Bomba na internet um vídeo em que uma monitora, fisioterapeuta ou médica, enfim uma jovem moça acompanha os primeiros passos de um menino que usa aparelhos.
Ela sentada ao lado ordena: "vai, para, vai para...", o deficiente com dificuldades anda, consegue dar os passos e no terceiro ou quarto, a moça vai às lagrimas, sua voz sai embargada, por que, este momento foi uma conquista de muito trabalho, de uma equipe, da profissional, da família e do próprio deficiente, é imensurável a alegria deste momento mágico.
Falo isto com propriedade, fui presidente da nossa APAE, minha proposta principal em meio a desconfiança de um homem na direção e algumas resistências com as profissionais, foi conquistar os alunos, lhes dando atenção, carinho, amizade e confiança. Até hoje tenho bons e queridos amigos, alunos da APAE, muitos foram de dentro da minha casa, também adorado pelos meus, eles fazem parte da minha historia e nem imaginam o quanto me ajudaram ser mais gente e humano, agradeço a Deus por todos os benefícios, conforto, festividades que a minha gestão lhes ofertou.
" Uma aluna em especial me tirava do prumo e o sono, me inquietava, intrigava, de longe sentia que era a mais carente... "
Uma aluna em especial me tirava do prumo e o sono, me inquietava, intrigava, de longe sentia que era a mais carente, tinha o mundo mais fechado, precisava demais de todos. Bem lembro que quando ela chegou foi impactante a equipe, pois, ela não sabia nem pegar os talheres, comia sentada e com prato também no chão, bem típico dos animais, com a mobilização geral fomos tendo mínimos progressos.
Eu não desistia dela, me aproxima todo o dia, semanas, meses, anos e a resposta sempre era a mesma, um chacoalhar do corpo para frente e para traz e do bico com as mãos, feito um guizo, um sino, um sinal de que “Eu estou sentindo, eu estou gostando, não me deixa.”
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Numa determinada final de manhã estávamos sentados no saguão à espera do transporte, acabou ficando eu e ela, um de frente para o outro, aqui a chamarei “FABIANA”.
Naquele dia a senti mais feliz, diferente, seus balanços rotineiros eram mais tranquilos, ate dava para observar um semblante risonho. Eu fui perguntando, perguntando, estava boa a merenda? Ela com a cabeça, afirmou que sim, incrédulo continuei, o que você comeu? Deu para entender muito bem um lento soletrado “arroz,feijão” em estado de choque insisti, qual o meu nome? eu já aos prantos ouvi bem alto e bem grande “João” seguido de uma risada bem grande.
Este foi o maior presente que ganhei da APAE, melhor reconhecimento, o mais importante resultado da gestão e umas das mais lindas emoções da minha vida.
Fabiana logo foi ficando enferma, imagino que com seus 25 anos acabou falecendo. Fiz questão de compartilhar estes momentos nesta semana que se exaltam as deficiências porque existem muitos irmãos nestas condições mundo afora, que não querem pena, compaixão ou piedade.
A maioria deles sabe que sua condição é do plano superior de Deus. Eles precisam é de abraços, carinho, amor e relações humanas, para guardarem na alma as historias que a gente pode um dia contar deles. Abraço