Neste período carnavalesco fico feliz pelas muitas lembranças dos bons carnavais do meu saudoso SALGUEIRO. Fui membro atuante da escola de samba, passista e ritmista de fraco a mediano, bem por isso, firmei minha posição como letrista, e assim, compus vários sambas enredos e ainda cheguei a Presidência da escola e sociedade.
Foto: Arquivo pessoal - 2015
Nesta época a sociedade comportava três blocos de carnaval, desta maneira os sócios ativos e em dia se dividiam nas festividades destes grupos, que durante o ano captavam recursos cobravam mensalidades de seus componentes, organizavam-se em vestimentas, bebidas e o comestível, no carnaval usavam as dependências da sociedade, mobilizados se constituíam em governos paralelos a diretoria, momentos que exigiam muita diplomacia, costuras e acertos, tanto para os desfiles de rua quanto aos bailes de salão.
A sociedade sempre levava a pior, pois os blocos se organizavam e eram independentes em tudo, participavam quando queriam no salão, nada ajudavam nas fantasias da escola de samba e nunca queriam formar as alas, ainda não pagavam ingressos pois a maioria eram sócios, cada um escolhia sua rainha, geralmente as jovens mais destacadas, bonitas e sambistas.
Chegava o Baile Municipal com seu bem-vindo rateio financeiro, os blocos do Salgueiro todos bem representados e inscritos e a sociedade chupando no dedo.
Não havia cristo que se pensasse primeiro na casa, até que uma noite tomei uma decisão, depois de esgotado todos os pedidos de ajuda já terminando o tempo de inscrição para as candidatas. Aproveitei a boate que rolava movimentada, lotada, auto astral e saí á caça de uma rainha.
Era muita gente linda, alegre, feliz e não foi difícil observar varias em condições de representar a sociedade, optei por uma moça, morena jambo, cabelo preto encaracolado e cumprido, sorridente, belas curvas, simpática, dona de si, um pitéu.
Em dois toques esteve na minha frente na secretária, desconfiada e não acreditando na proposta que lhe fazia, relutou por não ser sócia, nunca ter desfilado e também pelo seu namorado muito ciumento. Acabei convencendo os dois, acertamos o pagamento de algumas aulas de samba de preparação para o desfile, também toda a despesa do salão de beleza.
E já tratei de anuncia-la naquela noite mesmo, depois providenciei uma faixa grande para minha doce e notável rainha a ser colocada no ginásio “Ivania também é Salgueiro.”
E a guerra estava formada, reunião com a diretoria, blocos, telefonemas, recados, disque me disque, isto ou aquilo, pressão de todos os lados, que era uma pouca vergonha eu ter escolhido tal dita cuja para ser rainha da Sociedade. Continuei firme com a prestativa e jovial rainha que aqui a chamarei de Ivania a qual cumpriu a missão, desfilando com muita graça, maestria, samba no pé, porem, com pouco reconhecimento da Sociedade Salgueiro.
Conto isso, porque disputa de Rainhas, é sempre um quesito a mais, a parte, diferente e especial nos carnavais. Nunca vai haver unanimidade, sempre vai ter os mimis, são estes “quase deu” “faltou um décimo” “foi por detalhes”, exatamente isso, que fazem destes momentos, mágicos de muita torcida e adrenalina.
O que conta mesmo é a faixa no peito e a coroa na cabeça, depois disto relaxem, sejam felizes, caiam na folia, aproveite e se preparem para o próximo carnaval. Com a sua rainha, a mais bela, dançante, sambista, favorita, imposta ou escolhida e tudo vai ser como sempre foram os carnavais, uma folia boa.
Porque rainha que se preze tem no currículo, além da ginga, malícia e o samba, fatos inusitados, inesperados e contestados, Eu a Ivania e outras tantas soberanas de carnavais de outrora soubemos bem disso. Abraços