Um fiapo de vida é uma vida tênue, rápida, tipo um zás, um risco, uma sombra, um pouco mais que instantânea, certamente incompleta, interrompida, ceifada, niquelada, sabe-se que morrer é coisa dos planos de Deus a todos nós.

 Vestir a roupa da conformidade e normalidade em certos momentos nem sempre é compreendido ou fácil.

Ponho-me a pensar quantos abraços ficarão suspensos no ar em busca de outro a abraçar, e os  sorrisos, pequenos e tímidos que buscavam carinho, atenção e abriam portas e caminhos.

Quantos sonhos sonhados perderam o sentido, quantas saudades guardadas, em qual prateleira, mais um farol de tele e futuro que se escurece.

 Entre os amigos que fez e os que lhe amavam sua falta é “doida” e pulsa em porquês.

Quando tive um armazém, aos sábados à tarde, ganhei um cliente especial, que se achegou de devagarzinho, o pouco que sabia dele me cativava e me remetia ao quanto era difícil trilhar uma vida, pensando em trabalho, vencer e crescer.

Quantos meninos feito Venâncio e outros tantos neste mundão, cedo quebraram barreiras e enfrentaram os dias com coragem e desafio.

A simplicidade e humildade daquele moço quase jovem, que trabalha a semana inteira fora de casa, longe da família, nem sei onde, e que feito uma criança, comprava bala, refrigerantes, bolachas recheadas, pipocas e rapadura, mas transpirava senso de responsabilidade.

A mim era um misto de criança e homem atropelando a vida e pedindo passagem, conquistou minha confiança, crédito no caderno, minha amizade e meu coração.

Certo dia tempos depois, quando eu estava vereador, alunos do Projeto Pescar, andavam visitando a Câmara e adentraram no meu gabinete, entre os alunos, Venâncio.

Poucas palavras foram pronunciadas entre nós, mas falamos muito com olhar e a alma, é claro, aquele sorriso pequeno, tímido e amigo, que registrei numa foto que guardo entre os meus bens bem guardados.

Ele me disse de vários jeitos, consegui, venci, eu estou aqui entre os selecionados, isto me deixou muito feliz, por que era mais um João da vida que  crescia.

Recentemente uma bicicleta me deu o alerta, nela ele,  mais uma vez me apontou o dedo com um cordial cumprimento e aquele sorriso de vencedor, conheço um pouco da metodologia e critérios de serviços para estar naquela função, já tive gente minha lá, e foi para eles um grande ensinamento para  futuro.

Mais uma vez aquele menino que eu mal conhecia e ao mesmo tempo me foi exemplo de obstinação e dedicação, conquistou seu espaço e o seu sucesso sempre me fizeram muitíssimo bem.

Da para entender porque meu coração hoje teima em chorar pequeno e tímido, se para alguns nada valia, pouco importava, a mim significava muito, como ser humano, filho, jovem, trabalhador e sonhador.

 A vida nos surpreende, do amanhã nada se sabe, viver sempre foi um desafio, mas dói “doido” quando temos a sensação de que a vida está por um fiapo. Nestas condições quantos mais?

Rodrigo Venância o primeira da esquerda - Arquivo Pessoal.