Você acompanhou no sábado (10) o programa Campo Web, apresentado por José Domingos, apresentando ao telespectador a convidada Hirya Fernandes Pinto, médica veterinária. A tupanciretanense reside hoje em Uruguaiana, integrando a empresa Gênese, assessoria de pecuária.
Além de uma rica entrevista, no âmbito da pecuária, Hirya, Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal na área de Reprodução e Produção animal, da Unipampa, apresenta ao leitor do JM Digital um artigo sobre o tema abordado no programa:
O território brasileiro compreende 851.600.000 hectares, destes, 57% são florestas, 19,7% cultivo de pastagens e 7,6% agricultura. A pecuária é o setor que ocupa maior espaço depois das áreas de preservação de florestas. Nas últimas décadas houve diminuição da área ocupada pelo rebanho bovino, com aumento da produtividade em 176% (1990 – 2018, ABIEC, 2020). A bovinocultura brasileira possui destaque mundial na produção de carne e leite, a qual evolui em busca de uma produção cada vez mais sustentável nos âmbitos econômico, social e ecológico. O rebanho de corte do Brasil registra, 222 milhões de cabeças, o maior rebanho comercial do mundo, segundo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA). Devido ao investimento em genética e atendendo as demandas mercadológicas, o país consolidou-se como maior exportador de carne bovina. Produz cerca de 10.96 milhões de toneladas de carne bovina, sendo destes, 2.21 mi/ton. (20,16% ) são negociados para dezenas de países em todo o mundo (ABIEC, 2021). Apesar do considerável crescimento em produtividade, registrado nos últimos anos, ainda estamos a uma margem muito distante do sucesso em eficiência de produção.
Com a expansão das áreas de produção agrícola, a integração lavoura pecuária, se faz cada vez mais presente e fundamental. Para garantir o crescimento vertical da bovinocultura de corte de exploração comercial, se faz necessário direcionar esforços para manter o balanço entre custos de produção e aumento de produtividade. Através da utilização de pacotes tecnológicos é possível medir a eficiência dos índices zootécnicos, tais como, precocidade, ganho de peso, eficiência reprodutiva, produção de kg de terneiro por vaca ao ano...
A cria é a atividade que demanda maior investimento em cabeça imobilizado, compreende as matrizes (vacas e novilhas) e os reprodutores (touros). Ocupa 70% da área destinada a pecuária quando manejado o ciclo completo (cria, recria e terminação). O resultado da “safra” da vaca é mensurado durante a “colheita” dos kg de terneiro produzido, que leva cerca de 16 meses para ser realizada (9 meses de gestação e 7 meses até o desmame da bezerrada), o que podemos chamar de investimento a longo prazo. Por necessitar de maior quantidade de área disponível, a atividade de cria de maior escala, acaba ficando concentrada em regiões onde há maior extensão de campo. No Rio Grande do Sul, região sul e oeste. No entanto os investimentos em tecnologia de produção, nutrição, constituição de pastagens e reprodução, propiciam a realização da atividade de cria também em regiões onde predomina a atividade agrícola. Para sobrevivência do negócio, visto o alto valor da terra ocupada, a atividade requer intensificação e alta eficiência em produtividade.
Quando falamos em eficiência de produção, é necessário considerar precocidade e encarar o sistema de produção com profissionalismo. Resumidamente, a utilização de ferramentas tecnológicas dentro da porteira possibilita, tornar a fêmea gestantes cada vez mais cedo (14-18meses) reduzindo o intervalo entre gerações, ter controle da parição e concentrá-la na melhor época do ano, produzir terneiros cada vez mais pesados e por consequência produzir proteína animal de qualidade em poucos meses (18-20meses).
A valorização do mercado frente ao cenário atual é reflexo de um conjunto de eventos além do ciclo pecuário. O aumento do abate de fêmeas nos últimos anos, justifica a baixa oferta de gado disponível no mercado, evento cíclico, que hoje soma-se a maior demanda por carne do planeta. Atualmente, vivemos o início da onda de retenção de fêmeas nas fazendas, o que garantirá estabilidade na valorização do gado pelos próximos 24 a 30 meses. O aumento das exportações é outro fator de impacto, junto a suba do dólar e valorização das comodities. Além disso, devemos considerar o efeito pandemia (COVID 19), que balança o mercado interno. O qual é responsável por absorver a maior porcentagem de proteína animal produzida no país. A escassez de boi e vaca gorda, leva a suba dos preços e dificulta também a captação de gado gordo pelos frigoríficos (principalmente pelos pequenos frigoríficos). O preço do gado de reposição também registra patamares de suba históricos, assim como os custos de produção. O que traz preocupação aos recriadores, invernadores e confinadores, sendo necessário muita cautela na operação. Pois o ponto de equilíbrio financeiro do investidor é uma incógnita, frente ao ágio do kg do boi no mercado futuro.
Hirya Fernandes Pinto
Médica Veterinária, Msc.
CRMV 14922