O Programa Campo Web do último sábado (13), conversou com Daniele Furian Araldi, formada em zootecnia, pecuarista e professora dos cursos de Agronomia e Medicina Veterinária da UNICRUZ. A profissional falou do sistema integrado, que une lavoura e pecuária em um mesmo local com o objetivo de melhor produtividade e sustentabilidade, e também ofereceu um panorama da pecuária na região centro-norte do Rio Grande do Sul.
Daniele iniciou sua fala fazendo uma retrospectiva de sua história dentro da agropecuária:
- “Sou a quinta geração da minha família que trabalha no agronegócio. Desde pequena, acompanhava meus avôs nos trabalhos de campo. Com meu pai, o foco era a lavoura de arroz, mas a pecuária sempre esteve presente. Já muito jovem, meu pai me colocou para trabalhar na cabanha. O gosto pelo assunto vem disso, da minha base familiar e dos meus ancestrais.”, disse.
Trabalhando com a criação animal voltada para a pecuária de corte, Daniele apresentou comentou sobre o cenário atual da pecuária no RS, em especial, na região centro-norte, que engloba Tupanciretã:
- “A pecuária gaúcha tem uma estratificação muito grande. Na região ao norte de Santa Maria (Tupanciretã, Cruz Alta, Júlio de Castilhos), a pecuária vem crescendo. O agro nessa região de Tupanciretã iniciou com a pecuária de corte. O produtor era pecuarista antes de se tornar agricultor. Questões de mercado acabaram trazendo as lavouras, o que também acarretou em desenvolvimento. Porém, a pecuária nunca deixou de existir, tanto a pecuária de corte como a leiteira, que hoje está um pouco na frente”, explicou.
Falou também da sustentabilidade, que está cada vez mais presente no horizonte dos produtores do agro:
- “Sustentabilidade abrange a questão de bem-estar, a questão ambiental, a questão de resiliência econômica. O Brasil, hoje, é um grande protagonista tanto no agronegócio como na pecuária. Hoje, dominamos 21% do mercado mundial da carne bovina, com previsão de aumento para 40% em menos de dez anos. Temos que nos preparar para isso, e a nossa região está observando bem a situação. Dentro da universidade, temos trabalhado esse assunto em nossos eventos, validando tecnologias e, principalmente, difundidos essas inovações”.
Em seguida, apresentou como funciona o sistema integrado que engloba lavoura e pecuária:
- “Na minha opinião, uma das grandes vantagens do sistema integrado é a fase de pastagem. Ela é que estará mais envolvida na questão da sustentabilidade ambiental. A fase de pastagem é um catalisador. Mesmo que o animal venha de outra propriedade, ele vai deixar um efeito no ambiente. Mas, com o animal indo embora, a questão da resiliência econômica do sistema integrado não será alcançada. Hoje, estamos vendo o próprio produtor de soja usar suas pastagens de inverno com seus próprios animais. Conseguimos desmistificar aquela questão que dizia: se colocar gado na pastagem, colhe seis sacas de soja a menos”.
E exemplificou uma situação concreta:
- “É muito clara as vantagens do sistema integrado. Por exemplo, na questão do carrapato, a gente vê que nos locais onde o sistema integrado é adotado, com áreas de rotações, a problemática é diminuída. Isso foi medido pelo número de manejos sanitários necessários para controle do carrapato”.
Daniele também aprofundou a questão das experiências de união entre agricultura e pecuária que não configuram um sistema integrado propriamente dito:
- “Principalmente nesta época do ano (inverno), temos alguns produtores que vem de outras regiões do estado buscar essa oportunidade do uso das nossas pastagens e forrageiras. E muitos contratos de parceria são formados. Porém, essa é a chamada falsa integração, pois a integração, no seu conceito, não remete ao pecuarista que vem de longe utilizar as pastagens e então leva embora seus animais”.
O sistema integrado inclui a relação lavoura-pecuária, e também envolve a relação lavoura-pecuária-floresta. Daniele explicou as vantagens desse último estilo de integração, que favorece a sustentabilidade ambiental, mas ainda é implantado apenas em regiões pontuais do estado:
- “Temos que pensar muito na questão ambiental. O Brasil já desponta como um dos grandes produtores mundiais de commodities. Quando falamos de árvores no sistema produtivo, temos a vantagem do sequestro de carbono”.
A professora da UNICRUZ falou então sobre a cultura da pecuária na região centro-norte do RS. A criação de bovinos é presente na região, ainda que em número menor do que as culturas de grãos:
- “Na nossa região, a questão da cria de terneiros está muito espalhada. Por exemplo: dois anos atrás, o confinamento era bastante utilizado. Hoje, já está sendo difícil a implantação, em função do preço da ração. Porém, vemos ilhas de produtividade em nossa região: sistemas de ciclo completo, com produção de terneiros, tecnologias aplicadas com bom desempenho e um produtor buscando produzir o terneiro e terminar esse animal nas pastagens de inverno”.
Perguntada sobre qual o fator mais importante para o sucesso de um rebanho, Daniele ressaltou a união entre ótima genética animal e alimentação de qualidade:
- “Produção sustentável envolve manejo, genética, alimentação. Porém, antes de comprarmos a melhor genética para o nosso rebanho, nós temos que ter comida, para que aquela genética consiga expressar o seu potencial. Primeiro a produção de alimento, e depois uma boa genética para termos o resultado esperado. Muito em breve, vamos ter aqui na região noroeste os maiores produtores de carne do estado. É simples, nós temos comida. É questão de transformar esse alimento em carne ou leite”, enfatizou, ressaltando o potencial produtivo da região que engloba a cidade de Tupanciretã.