No último sábado (25), o Programa Campo Web, bate-papo sobre o mundo agro voltado para pessoas inteligentes, teve a honra de receber novamente os especialistas em agronomia, Alexandre Rosa e Carlos Pires. Os dois profissionais concederam entrevista diretamente dos Estados Unidos, onde concluem estudos de especialização: Alexandre está no estado do Nebraska, enquanto Carlos se encontra no Kansas.
Alexandre e Carlos, que já haviam sido entrevistados pelo Campo Web no primeiro semestre do ano, voltaram para falar dos seus estudos e observações a respeito da cultura do milho realizada em solo norte-americano. Além disso, também comentaram sobre seu canal no Youtube, o Agro Connection:
- “A Agro Connection nasceu da vontade de comunicar. Somos apaixonados pela informação, e quisemos criar conteúdo para poder colaborar com o agro brasileiro. Esse é o objetivo”, informaram.
A conversa sobre a cultura do milho em solo americano iniciou com detalhamentos sobre o método de semeadura, em especial, da última safra:
- Carlos: “A semeadura do milho foi um dilema. Começou muito bem, depois começou a chover e ela começou a atrasar, algo que variou muito em cada estado. No Kansas, o produtor começou a se preocupar ali no final de maio, pelos atrasos. Mas a semeadura foi feita, e mudou muito pouco em comparação com os últimos anos”.
- Alexandre: “Os americanos gostam de fazer as coisas rápidas, e na agricultura não é diferente. Aqui, a janela de plantio começa final de abril e vai até final de maio. A safra começou muito otimista, pois o frio terminou mais cedo, a umidade foi boa na época de plantio, e o produtor pôde iniciar mais cedo o plantio. Depois, o jogo mudou um pouco, e tivemos alguns probleminhas. Mas, no geral, correu muito bem”.
Os estudiosos do agro também comentaram sobre pragas de lavoura enfrentadas pela maior economia do mundo:
- Carlos: “Viajamos pelos EUA inteiro, e conhecemos todos os cantos de produção de soja e milho, praticamente. O que percebemos foi, onde existe um pouco mais de umidade, encontramos o besouro japonês, que vimos bastante mais para o sul do país. No norte, vimos bastante gafanhoto”, disse, destacando que os problemas de pragas nas lavouras americanas são, em sua enorme maioria, contornáveis.
- Alexandre: “Há uma praga que está sendo estudada, e não se sabe como manejar. É uma mosquinha tão pequena, que coloca o ovo perto do pé da soja. Então, nasce uma larva que começa a fazer uma galeria dentro do caule. O monitoramento está sendo tentado, para gerar uma estratégia de combate. Existe ainda duas pragas que incomodam: um besouro que se alimenta do cabelo do milho, enquanto sua larva se alimenta da raiz da planta. A outra praga é na soja: besouro que também coloca ovo na axila da inserção da folha no caule, com a larva entrando pelo caule”.
Localizados no meio-oeste americano, os estados de Nebraska e Kansas possuem particularidades de clima que influenciam no plantio. Alexandre detalhou o que observa:
- “Para produzir milho de alta produtividade, na região de Nebraska é preciso irrigação. É o estado mais irrigado do país. Chega-se a irrigar em torno de 150mm, podendo ir até 250mm”, explicou.
Enquanto Carlos comentou sobre o método de aplicação de nitrogênio utilizado pelos produtores americanos:
- “Aqui, uma boa parte dos produtores aplica o nitrogênio logo depois da colheita. Então, ele já fica no solo, pois, logisticamente, na época de plantar, é preciso plantar. O Kansas é um dos líderes em plantio direto nos EUA, então há um pouco mais de aplicação em superfície de ureia, que é feito logo depois do plantio. Quanto ao cálculo de nitrogênio, é baseado na matéria orgânica do solo e na expectativa de produção. Esse é o cálculo americano”.
Carlos também apontou outra diferença entre o produtor americano e o produtor brasileiro:
- “O produtor americano, na grande maioria, não usa secador. A umidade já fica baixa no outono. O silo é basicamente para armazenagem. O produtor quer tirar o quanto antes o milho da lavoura, pois pode vir chuva e neve. O produtor ainda tem chance de enviar o milho da sua propriedade direto para a China, via contêiner”, disse, destacando que está disponível no canal do Youtube da Agro Connection entrevista com produtores americanos.
Alexandre destacou a percepção do milho na cultura e economia americanas:
- “Quando o americano vê uma espiga de milho, enxerga uma bomba de combustível ou então uma latinha de cerveja. É o carro chefe deles. A produtividade é altíssima. O etanol é o principal destino desse milho”.
Estudos biotecnológicos também foram pauta da conversa:
- Carlos: “Existe o chamado short corn. Um milho mais curto, que está sendo desenvolvido e talvez possa revolucionar o mercado. Há muita pesquisa sendo feita, mas busca-se baixar a estatura do milho e melhorar a eficiência do uso da água e nutrientes”.
- Alexandre: “Existe mais biotecnologia para o milho do que para a soja. O produtor americano planta mais milho e a indústria acaba focando mais nisso. Temos já os eventos de glifosato, que são bem comuns. Mas eu diria que a parte de insetos é a área que mais está avançando. Na questão de achar as proteínas que irão inibir ou diminuir os danos dos insetos. Na empresa onde eu trabalho, há utilização da tecnologia do RNA mensageiro, presente também na vacina da Covid-19. É o campo andando junto com a saúde”.
Então, chegou a hora de conversar sobre a produtividade das lavouras na maior economia do mundo:
- Carlos: “Nebraska é um dos líderes (em produtividade), enquanto o Kansas se aproxima dos níveis brasileiros. Estamos falando de 150 sacos, 125 sacos, mais ou menos por aí. Em estados mais ao norte, a produtividade é maior. O milho, no Kansas, se concentra no leste do estado”, disse, destacando que é mito o nível de colheita americana ter como média os 500 sacos por hectare.
- Alexandre: “Em termos de produtividade, vi aqui em Nebraska, a soja irrigada batendo 106 sacos por hectare. E é produtividade alta. Em relação ao milho, vi produtor colhendo 210 sacos no sequeiro, na parte central do estado. O milho irrigado ainda não teve a colheita iniciada, mas deve beirar os 300 sacos por hectare” afirmou, destacando também como o produtor brasileiro é respeitado em solo estadunidense.
Os profissionais do agro ainda comentaram impressões que tiveram quando de visita à feira de inovações de agricultura:
- Carlos: “Semeadora a vácuo, muito interessante. Possui três tanques separados para colocar sementes. Cada tanque tem uma balança, e a mistura é feita na hora do plantio. Então você tem distribuição uniforme das plantas de cobertura. Fiquei impressionado com esse equipamento”
- Alexandre: “Pulverizador que possui sistema inteligente de aplicação. Sensores com câmera e software aplicado. Os sensores lêem as plantas e irão aplicar apenas nas plantas daninhas. É uma oportunidade do produtor diminuir o custo, ser mais eficiente e aumentar sua rentabilidade”.
Carlos e Alexandre destacaram que as análises de outras inovações encontradas na feira estão no Youtube da Agro Connection.
Ao final da entrevista, os especialistas comentaram sobre a experiência de estudo teórico e prático que estão tendo em solo americano, destacando a intenção de trabalhar em prol do desenvolvimento do agro brasileiro e o papel do Agro Connection nessa troca de conhecimento:
- Carlos: “Profissionalmente, é um crescimento muito grande. Ganhamos muitos prêmios aqui nos EUA. A Sociedade Americana da Agronomia e a Sociedade Americana de Ciência do solo estão encantadas com o trabalho que o Agro Connection tem feito para linkar o Estados Unidos com o produtor brasileiro, levando a informação tanto do campo como da pesquisa. Hoje, sou uma pessoa muito mais capacitada e com mais confiança, dando meu melhor para contribuir com a agricultura brasileira”, disse destacando o apoio aos produtores brasileiros.
- Alexandre: “O grande objetivo é compartilhar o conhecimento. Todos muito sai ganhando. Todo o conhecimento que eu adquiri, estou conseguindo colocar em prática. Começamos entre três e quatro pessoas, e hoje temos uma equipe de estudantes que nos ajuda (a gerir o canal do Youtube). A tendência é cada vez melhores informações, direto do campo. Sempre quis retribuir aos produtores brasileiros tudo aquilo ao que eu tive oportunidade de ter acesso aqui nos Estados Unidos”, disse, desejando uma excelente safra ao agro do Brasil.