Dependendo da água como um dos elementos básicos, a agricultura é bastante afetada pela escassez hídrica. Assim, no início da conversa, Décio Teixeira comentou sobre a atual estiagem, comparando com situações de secas anteriores:
- “Tenho 50 anos de lavoura. Em 83, tivemos uma seca monstruosa, ficamos com 44 dias sem chuva, e todos os rios da propriedade foram secando. Conseguimos nos levantar porque o governo nos deu um aporte e prorrogou os financiamentos com juros baixíssimos. A seca atual, já vem desde o inverno, pois desde lá tivemos pouca chuva”.
José Domingos lembrou que a seca dificultou também a fase inicial do cultivo, com muitos produtores não conseguindo terminar a semeadura:
- “Consegui plantar, mas já com pouca umidade. Germinou porque a semente era de excelência, mas a planta está parada”.
A visita da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, também foi comentada pelo Presidente da Aprosoja RS:
- “É uma pessoa extraordinária e tem uma competência muito grande. Uma mulher que leva as suas tarefas até o final. Sabemos que o governo não tem condições de fazer todo o necessário para o produtor. Porém, existem outras maneiras de superar essas dificuldades. Temos de unir todas as entidades”, disse, revelando que o primeiro contato com a ministra para a visita ao RS foi realizado pela Aprosoja, e também citando que, durante a visita ao RS, a ministra da Agricultura veio junto de outras autoridades, como o presidente da Embrapa, e membros dos ministérios da Economia e do Meio Ambiente, a parceria entre diversos setores foi ressaltada.
Décio comentou também sobre documento enviado ao governador Eduardo Leite no qual constam medidas que os produtores pedem que sejam tomadas para o enfrentamento da estiagem:
- “Foi um documento feito por várias mãos. A primeira necessidade é a anistia aos produtores, pois eles não têm condições de superar as dificuldades sem a ajuda do governo. Além disso, o Rio Grande do Sul está isolado, por ter uma malha ferroviária cujas medidas são diferentes do resto do país. Mesmo que tivéssemos que trazer milho do Mato Grosso para suprir a falta, o frete rodoviário inviabilizaria isso. O milho chegaria no RS muito mais caro do que custa”, disse, revelando que essa última questão foi conversada com o ministro da Infraestrutura.
Citou ainda outras pautas apresentadas no documento:
- “Também há a questão do barramento de rios. Hoje, é proibido fazer açudes no app (áreas de preservação permanente). Mas onde iremos fazer um açude senão em área de umidade? Precisamos procurar áreas para reservar água. Também há a questão da mata ciliar. Aqui no Brasil, nós protegemos. Mas, indo para os Estados Unidos ou Europa, eles não possuem mais nada disso”, disse, revelando previsão de liberação de R$ 200 milhões pelo governo do estado para aberturas de poços e construção de açudes.
As dificuldades financeiras que a estiagem provoca também foram comentadas:
- “Temos que fazer algo diferente em matéria de rolagem de dívidas. Não podemos carregar endividamento. Temos de melhorar nosso seguro. Criar um fundo para que fique mais fácil para o produtor pagar. Pretendemos que o BNDES conceda dinheiro para o produtor pagar a conta no banco ou na empresa. O negócio tem de continuar fluindo”, disse.
Como o agro é dinâmico, a conversa também falou sobre a safra de inverno:
- “Temos de ter uma lavoura sustentável. Já se sabe que os preços estão caindo, mas isso ainda não chegou aqui [no Brasil]. Com ajuda dos agrônomos que cuidam das lavouras, nós devemos fazer um levantamento para ver o que temos de base no solo, para podermos usar as reservas disponíveis”, disse, ressaltando a importância dessa safra.
Em ano de eleição, Décio destacou o papel do agro na política:
- “Nunca participávamos diretamente. Mas teremos que demonstrar, através de argumentos, e provar para aquele que pensa diferente de nós que o que defendemos vai ser bom a família dele. Temos que dar um futuro melhor para as pessoas. Não vivemos isolados no mundo. É tudo entrelaçado. Teremos que ter uma inteligência muito grande e escolher bem os candidatos”.