Último Campo Web de janeiro conversa com o produtor Armindo Mugnol a respeito da difícil situação do agro em frente à estiagem
Necessidade de criação de estoque da produção agrícola a nível nacional e de uso de Área de Proteção Permanente para armazenamento de água foram ressaltadas pelo agricultor
“Temos que ter atitudes adequadas para enfrentar esse momento difícil. Esperamos que a situação deste ano não se repita nos próximos. Em 2004 e 2005 tivemos estiagens muitos fortes. E isso me levou a pensar quais deveriam ser nossas atitudes. O primeiro passo é melhorarmos a qualidade do solo. Além disso, também pensei muito sobre a irrigação. Em torno de 80 mil hectares de soja e milho no RS, ou seja, cerca de 2%, são irrigados. Isso, no meu entendimento, é um número muito pequeno”.
O contexto da seca acabou por penalizar o produtor que semeou, uma vez que a planta não conseguiu se desenvolver:
“Neste ano, na lavoura de milho irrigada estamos colhendo de 180 a 200 sacas por hectare. Em áreas sem irrigação, colhemos de 0 a 10 sacas. É um prejuízo enorme para o produtor e para o RS. Em nossa propriedade, 12% da área não será semeada. Quanto ao replantio, sabemos que precisamos de chuva, senão não haverá germinação. Mesmo com tudo correndo bem, a produtividade será baixa”, disse, revelando que as águas represadas já terminaram e que a irrigação foi insuficiente.
Nesse sentido, o produtor afirmou a necessidade de se armazenar água em Áreas de Proteção Permanente.
“Estamos em um estado onde chovem 2000 mm/ano e não temos água para irrigação. [A irrigação] É um investimento a longo prazo, e que recebe muito imposto. É necessário ter a possibilidade de fazer barragens em Áreas de Proteção Permanente. Hoje, se você tiver que derrubar cinco ou seis árvores para colocar um pivô, não é permitido”.
Além disso, o aumento do preço de insumos é outro complicador da atual safra:
“Fertilizantes dobraram o preço, e o mesmo acontece com outros insumos. Em relação a maquinário, o preço triplicou. Ou seja, o prejuízo é ainda maior para quem financiou máquinas”, afirmou.
Como o agro é integrado e dinâmico, as dificuldades da lavoura chegam também aos pecuaristas:
“Falei com criador de frango e suínos na região da serra. Foi-me dito que, em 2021, teve R$ 4 milhões de prejuízo. E, a partir da semana que vem, todos os leitões serão abatidos, porque não há como pagar milho a R$ 100 a bolsa, e vender o suíno a R$ 3,50. É uma situação catastrófica para todos os produtores de carne” disse, destacando a falta de estoque regulador no território brasileiro para garantia alimentar.
O produtor Armindo Mugnol também teceu comentários sobre os setores governamental e estatal referentes ao agro:
“Pela importância do setor agrícola, estamos muito mal representados. Em termos de fertilizantes, o Brasil não desenvolveu nada. Foi desativado o incentivo de produção de insumos, e hoje somos dependentes de importações. O setor cooperativista também tem de mudar. É preciso se unir. Assim, há a nivelação e a estabilidade de mercado, independente da situação climática inadequada”.