As mudanças observadas no mercado da soja nas últimas semanas, que resultaram em preços batendo em suas máximas nos últimos sete meses na Bolsa de Chicago, se deram pelas preocupações crescentes com o quadro climático da Argentina - que ainda carrega muitas adversidades - mas também por uma movimentação diferente dos fundos de investimento diante dessas informações.
"Os fundos fizeram todo um desmonte de posição. Saíram de muitos contratos vendidos quando se depararam com os dois cortes consecutivos da safra (da Argentina) pela Bolsa de Cereales e de decidiram diminuir o grão de exposição de maneira muito intensa", explica a analista de mercado Andrea Cordeiro, da Labhoro Corretora.
Dessa forma, ainda segundo a executiva, a tendência é de que esses fundos se apeguem aos atuais fundamentos altistas para que possam continuar a defender essas suas novas posições. "Isso acontece exatamente como fizeram quando estavam vendidos. Os fundos estão muito conectados à safra sul-americana", diz.
Somente nesta quarta-feira, casas internacionais mostram que o mercado está comprado entre 25 e 29 mil contratos na soja. "Assim, os fundos vão continuar a defender suas posições até terem um norte", complementa Andrea.
Dados apurados pelo Rabobank mostram que os fundos, entre as principais commodities agrícolas mudaram sua posição para cerca de 87,463 mil contratos, contra o recorde de posições vendidas na casa dos 393,914 mil contratos.
Os olhos dos investidores seguem acompanhando os mapas de previsões mais distantes, que mostram que as chuvas previstas para os próximos dias, até o início de março, ainda são localizada e de baixo volume.
"As previsões climáticas atualizadas para a América do Sul trazem a permanência do padrão árido sobre toda a Argentina, nos próximos 15 dias. O cenário se define basicamente em chuvas escassas e temperaturas elevadas para a Argentina e o Extremo Sul do Brasil, enquanto que um padrão de precipitações regulares e temperaturas medianas se mostra presente para todo o restante do Brasil", diz um boletim da AgResource Mercosul (ARC).
Ainda de acordo com informações apuradas pela consultoria, a maior parte da área produtora da Argentina ainda conta com níveis de umidade no solo abaixo dos 10%, com exceção apenas para o oeste da província de Buenos Aires. Dessa forma, a ARC estima perdas de 6 a 8 milhões de toneladas na soja e de 4 a 6 milhões para o milho. "As previsões dos próximos 15 dias não trazem a reversão necessária do padrão meteorológico. Se confirmado, mais perdas serão adicionadas", completa a casa.
Na sequência, olhos no Corn Belt
Aos poucos, as atenções dos fundos começam a se dividir com as especulações sobre a nova safra norte-americana e as condições climáticas em que será iniciada no Corn Belt, ainda segundo Andrea Cordeiro.
A analista explica que "muitos são os questionamentos sobre a permanência e intensidade do La Niña". Ao mesmo tempo, os mapas do Drought Monitor - serviço do departamento de clima do governo americano que acompanha as condições de seca no país - indicam uma queda nos índices de umidade no solo de importantes regiões produtoras, e já há comentários de comparação desse cenário com a seca de 2012.
Além disso, olhos voltados também para o Agricultural Outlook Forum que acontece nos dias 22 e 23, nestas quinta e sexta-feiras, trazendo as primeiras perspectivas para a temporada 2018/19 dos Estados Unidos. "Depois do fórum será mais norteador", acredita Andrea.
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