A Polícia Civil de Tupanciretã representou pela prisão preventiva contra um casal, mulher de 21 anos e homem de 23 anos, de Tupanciretã, por crimes cometidos contra adolescente de 12 anos. Conforme a investigação, os suspeitos alegaram que agiam a mando de uma facção, versão contestada pela polícia.
Os crimes contra crianças e adolescentes nem sempre chegam ao conhecimento da sociedade, geralmente, pessoas próximas se aproveitam da fragilidade dos menores, e através dos mais absurdos argumentos cometem seus crimes. Na última sexta-feira, dia 25, a reportagem do JM Digital entrevistou o delegado, titular da Delegacia de Polícia Civil de Tupanciretã, Adriano de Rossi, para falar sobre crime cometido contra uma menina de 12 anos, ocorrido no ano passado.
Conforme informações repassadas pela autoridade policial, o caso chocante ocorre da influência de um casal, onde a mulher é prima da vítima. Ambos criaram um roteiro para justificar os abusos relatados pela adolescente, que, inclusive, teve cenas gravadas por um aparelho celular, onde supostamente comprovam os atos contra a menor. O conteúdo teria sido removido do aparelho que vai passar por perícia, mas, um dos suspeitos admitiu as condutas alegando que uma facção estaria ameaçando a vítima, para justificar os atos.
Segundo o inquérito policial, o casal teria criado um grupo de conversas na rede social, onde por meio de uma possível dívida por drogas, no montante de R$ 120 mil teriam desencadeado as ações. O pai realizou o registro da ocorrência na delegacia, relatando o fato.
“Ele disse (pai da vítima) que, teriam entrado em contato com esse casal, e dito que o “namoradinho” da vítima estaria com uma dívida de drogas. Que o valor seria de cento e vinte mil reais, e quem teria de pagar o dinheiro seria a vítima (adolescente de 12 anos). Isso não tem lógica, pois o responsável pela dívida da droga não seria a menina. Isso chama a atenção nesse caso”, revelou o delegado.
A história ficaria mais confusa, quando esse suspeito estaria mantendo contato com a “facção”, negociando com os possíveis mandantes. A polícia não acredita na versão e sugere que o mesmo tenha criado esse argumento, pois teria um plano ainda maior e não conseguiu comprovar as conversas.
“Em que pese a dívida ser de R$ 120 mil, eles teriam aceitado receber R$ 1,5 mil. Outra coisa que chama a atenção! Para criar esse teatro e convencer os pais da vítima, eles criaram um grupo no Facebook, onde estavam os pais da vítima, a vítima, esse casal investigado, os pais da prima da vítima que é investigada e o suposto integrante da facção que estaria dando as ordens”, revelou Adriano.
Diante da situação o pai da vítima cedeu e pagou o valor de R$ 1,5 mil, onde o indiciado teria levado até os mandantes, em um ponto combinado na entrada da cidade. Pois o pai também é vítima de extorsão. E mais, a menina teria de produzir um vídeo mantendo relações com o suspeito.
“No carro, teriam quatro integrantes da suposta facção, os homens estariam fortemente armados e encapuzados, ele disse em depoimento que entregou esse dinheiro. Só por esse pedaço da história já é absurda, mas fica pior. Porque não contentes em extorquir o pai da vítima, a facção estaria mandando, por uma forma de compensação a esse suspeito, que a vítima teria de manter um relacionamento com ele e fazer um vídeo, mantendo relações sexuais com ele para ser passado para a facção”, revelou de Rossi.
O delegado faz uma pausa, e mostra incredulidade sobre a conduta, afirmando que por toda a experiência nunca soube de uma facção agir dessa forma.
“No primeiro momento, isso não tem ‘nem pé nem cabeça’. Eu estou aqui na delegacia, estou delegado de polícia há nove anos, enfim a gente lê também coisas, casos fora do estado, no estado. Eu nunca tive conhecimento de uma facção estar ameaçando alguém a manter relacionamento com outra pessoa que a princípio nem é da facção. Mas enfim, está ali", disse o delegado.
As intimidações seguiram, onde a adolescente e até os pais da menina passaram a sofrer ameaças de perderem a vida, se o conteúdo não fosse enviado para os ‘’mandantes’’. Um laudo psíquico comprovou os atos realizados pelo casal, que inclusive parecia se divertir com as ações.
“Diante das ameaças ambos acabaram cedendo, e a vítima passou a residir com esse casal. E acabou mantendo relações sexuais, foi feito esse vídeo pelo que a gente apurou na investigação. Foi nesse ponto que a mãe procurou a polícia, e depois o pai também fez o registro. Imediatamente a polícia deu prioridade para investigar o caso, onde ocorriam os crimes de extorsão, estupro de vulnerável e representamos um mandado de busca ao investigado, ouvimos pessoas próximas aos investigados, apreendemos os celulares deles, só que infelizmente eles apagaram tudo e encaminhamos a vítima ao laudo psíquico, no dia 7 de janeiro de 2022, e o laudo deixa claro que o casal abusou da vítima, e deixa claro que achavam graça disso. Ou seja, o casal em nenhum momento parecia estar sendo coagido a manter relação forçada contra a vítima. O laudo apontou que o relato na vítima preenche critério de credibilidade que não há sinais de que a vítima tenha sofrido influência, bem como a vítima apresenta sofrimento psicológico sobre os fatos apresentados”, explica Adriano.
Com o avanço das investigações foi constatado que, além da exclusão dos conteúdos em vídeo nos aparelhos de celular, as conversas mantidas no grupo do Facebook também foram removidas, porém a polícia representou pela prisão do casal. A menor foi retirada da casa, passou pela Casa de Passagem, mas atualmente já está com a mãe.
“O relato da vítima, inclusive de crimes sexuais, tem um poder probatório muito grande. Pois às vezes é a única prova que a gente vai ter. E outra coisa, o investigado, que foi indiciado não negou que cometeu o abuso. Mas ele diz que a facção tinha mandado ele fazer isso. Ele apagou tudo, em nenhum momento procurou a polícia, pelo contrário ele falou que: que a polícia não vale nada”, disse.
O delegado representou contra o casal, sugerindo a prisão preventiva de ambos, que não possuem antecedentes criminais. E revela com incredulidade, a influência de uma facção no caso. Reforçando que os casos semelhantes recebem prioridade, pois são crimes graves.
“Somos policiais, mas somos ser humanos e nos revolta certos casos, mas nesses moldes de uma suposta facção estar cobrando ameaçando para manter relação sexual com uma criança, isso em Tupã, nunca aconteceu, e isso não é o modo como as facções agem. E eles, assim, quando alguém está devendo droga, o alvo é quem está devendo a droga; não é um familiar, não é o pai, mãe ou o irmão. Muito menos uma ‘namoradinha’, que pelo relato da vítima eram mais amigos, que namorados, encerrou Adriano de Rossi.
Após a conclusão do inquérito os suspeitos estão à disposição da Justiça. A Polícia Civil alerta para que ao receber qualquer ameaça às pessoas procurem a delegacia imediatamente.