Na manhã desta quinta (30), a psicóloga Marcella Seixa Netto concedeu exclusiva ao JM Digital para falar do Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, e também da manutenção da saúde mental durante a pandemia. A psicóloga detalhou medidas especiais tomadas para promover o cuidado com o bem-estar psicológico durante esse mês:
- “É um prazer imenso estar aqui falando desse tema tão importante, que é o Setembro Amarelo, trazendo um balanço de como foi esse mês de prevenção ao suicídio. Procuramos acolher as pessoas de maneira diferente. O valor da consulta foi reduzido significativamente, para incentivar o cuidado com a saúde mental nesse período (do Setembro Amarelo). Muitas vezes, a gente tem preconceito em torno das doenças mentais, mas elas são graves, assim como o câncer, o diabetes. Ainda existe um tabu muito grande, até porque, a tendência de quem está na volta é achar que não havia sentido na pessoa fazer o que fez. Existem muitos quadros depressivos e de doenças emocionais. Neste ano, notei que as campanhas estão focando mais em questões do tipo: Como detectar que uma pessoa está pensando em suicídio? Como acolher uma pessoa que tentou o suicídio? É importante ressaltar: estando atento, a gente pode salvar muitas vidas”, afirmou.
A pandemia também surge como elemento complicador para a manutenção da saúde mental. A ocorrência de vítimas fatais, aliada ao medo do contágio e a impossibilidade de convívio social acabam agindo como gatilhos para situações de stress psicológico:
- “A pandemia foi um divisor de águas na saúde mental de todos nós. É algo complicado trabalhar com as perdas, os danos causados por ela. O vazio, principalmente. O fato de ter perdido alguém ou de saber tudo o que aconteceu, já nos causa medo. Problemas que, muitas vezes, já estavam nas pessoas acabaram emergindo como crises de ansiedade, depressão, síndrome do pânico”.
A profissional inclusive trouxe dados da Organização Mundial da Saúde que comprovam o abalo da saúde mental durante a pandemia:
- “No começo da pandemia, até abril de 2020, a Organização Mundial da Saúde divulgou que mais pessoas haviam morrido de suicídio, em um ano, do que pelo coronavírus. Esse dado é bem importante para vermos como a questão do suicídio é séria. E como o medo e o desânimo de encarar a vida são presentes. Muitas vezes, até na nossa família, e não nos damos conta”.
Nesse sentido, no momento mais crítico da pandemia em Tupanciretã, a psicóloga Marcella se prontificou a atender algumas pessoas gratuitamente:
- “A partir do momento que lancei essa possibilidade, surgiram muitas pessoas interessadas. Entrei em contato com as pessoas, e comecei os atendimentos. Foi possível perceber um sofrimento imenso da população. Tanto dos que perderam um ente querido para a pandemia, como o medo em si. Instaurou-se um medo nas pessoas, quase uma fobia social. Esse foi um dos motivos pelos quais eu senti necessidade acolher, dentro do meu possível, a população: tentar suprir essa demanda”, disse, destacando a mudança de vida causada pela pandemia, e o medo de sair de casa e de conviver, que algumas pessoas experenciaram.
E deu um conselho sobre como avaliar se alguém próximo a nós precisa de ajuda:
- “O pensamento suicida é coisa séria. Quem pensa, faz. Esse é outro tabu que temos que quebrar. Se alguém falou que perdeu o sentido da vida, que tudo o que gostava de fazer perdeu o encanto, procure acolher essa pessoa e sugerir que ela peça ajuda. A pessoa pode ter um surto e acabar tirando a própria vida”, disse.
A questão do interesse da população em notícias tristes também foi tratada durante a entrevista. Marcella valorizou a busca pela informação, mas destacou a importância de não se deixar envolver pelos fatos:
- “Acho que a informação é sempre muito necessária. Se a pessoa quiser saber sobre uma notícia triste, ok. Mas o que mais me preocupa é o quanto ela se envolve com essa notícia. Vai muito do perfil de cada um. Durante a pandemia, as pessoas estavam sempre contabilizando quem é que morreu, quem estava doente, etc. E isso vai gerando um descontrole emocional inconsciente muito grande, porque vai colocando um pânico dentro da pessoa. Não precisa ir atrás de notícias ruins. Dê uma olhada, mas não se aprofunde. Principalmente, se tiver passando por um quadro de depressão ou tristeza, evite notícias ruins. É importante diferenciar o que é produtivo e o que não é”, finalizou.