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Tupanciretã

Terra da Mãe de Deus; Tupanciretã completa 92 anos

Publicada em 21/12/20 às 10:28h

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Terra da Mãe de Deus; Tupanciretã completa 92 anos
Charqueada - Tupanciretã - RS  (Foto: Desconhecido/Blog Luis Afonso Costa)

TUPAN-CI-RETAN

Tupan = Deus Ci = Mãe Retan = Terra



A LENDA DE ORIGEM


Em um passado distante, era uma vez...

Fazenda jesuítica extremamente humilde, a qual uma não menos modesta capela assinalava a existência, a localidade onde se situaria a cidade de Tupanciretã se constituía, além do edifício religioso, de um rancho simplório: paragem acolhedora de viajantes que desbravavam o pampa gaúcho.

Um dia, em noite de forte tempestade, passavam pelo local um Missionário e vários índios. Castigados e desnorteados pelo temporal, buscando abrigo e proteção, os viajantes viram, do mesmo céu de onde vinham as dificuldades, a indicação de um lugar seguro física e espiritualmente: após a ventania ter aberto as portas da capela, foi a vez dos raios e relâmpagos iluminarem a imagem da Nossa Senhora, mãe de Jesus.

“Tupan Ci!” - exclamou o Missionário em língua indígena (significando ‘A mãe de Deus’).

“Tupan Ci Retan!” - disseram os índios, (significando ‘terra da mãe de Deus’) sentindo a espiritualidade daquela região, a qual nunca mais perdeu tal alcunha.


Aquela terra seria Tupanciretã.

ANTÔNIO JOSÉ SILVEIRA E A FAZENDA TUPAN-CI-RETAN

Foi também a funcionalidade de posto de passagem o que propiciou às terras de Antônio José Silveira serem a origem da bela cidade que conhecemos hoje. Situada na divisa entre os municípios de Cruz Alta e Júlio de Castilhos, a fazenda Tupan-Ci-Retan se encontrava em posição estratégica para a passagem da malha férrea, que estava em ascensão em todo o Império do Brasil.

Em 1894, quando enfim a linha de trem alcançou às terras da estância, Antônio Silveira compreendeu que a conquista só seria de real valor se, na região, houvesse também um núcleo populacional.

Duas condições auxiliariam no surgimento do povoado: a excelente localização geográfica, próspera tanto para a pecuária como para agricultura; o final da Revolução Federalista de 1893, que deixou inúmeros gaúchos na mais profunda miséria. Honrando seu nome, a terra da mãe de Deus acolheu tanto os bem-afortunados como os mais humildes.

Em 1897, com a cessão do terreno da Praça Frei Galvão para a Igreja, constituiu-se o marco inicial do povoado de Tupanciretã.


O POVOADO SE DESENVOLVE COM FIGURAS ILUSTRES

O final dos anos 1890 viu um crescimento do povoado. Não apenas populacional, fruto da chegada de variados imigrantes de todas as regiões do Estado, como também urbano e social.

Fazendeiros da região tinham em Tupanciretã o ponto preferencial de suas transações comerciais. Além disso, na estação ferroviária chegavam, diariamente, mercadorias vindas de todos os cantos do país.

Nesse movimento de expansão do povoado, destacam-se dois acontecimentos e duas figuras que se tornariam históricas para o desenvolvimento do que viria a ser um município. São elas: Vaz Ferreira e Pedro Osório.

Médico e farmacêutico, Franklin Vaz Ferreira funda, em 1903, o jornal “O Tupaceretan”. A existência de um jornal revela que a comunidade, então composta por 800 pessoas, já possuía uma vida social e comercial movimentada. Junto do jornal, veio o telégrafo; à época, meio de comunicação imprescindível para manter uma aglomeração urbana conectada com o que acontece fora dos seus limites de território.

A outra figura é o Cel. Pedro Luiz da Rocha Osório que, em 1908, instalou a Charqueada Tupanciretan, empreendimento que revolucionou o povoado. O centro comercial se desenvolveu a ponto de ser o principal da região, abrangendo negócios internacionais e se transformando em uma espécie de banco para os fazendeiros da região.

O desenvolvimento econômico do povoado, que chamava a atenção de diversas partes do Rio Grande do Sul, foi acompanhado pela criação de serviços essenciais e estratégicos:

  • Em 1913 era fundado o primeiro colégio;
  • Em 1919, instalava-se a primeira agência bancária;

Assim, Tupanciretan ia tomando ares de aglomeração urbana autossuficiente; e a emancipação surgia como algo inevitável.


MOVIMENTOS EM BUSCA DA EMANCIPAÇÃO

A movimentação da comunidade de Tupanciretan em busca de autonomia política chamou a atenção dos municípios que detinham o controle territorial do povoado. A rua principal era a divisa entre Cruz Alta e Júlio de Castilhos, cidades que não tinham interesse em ver Tupanciretan de maneira independente.

Em 1926, em reunião no Clube Comercial inicia-se o movimento pela emancipação. O jornal O Gaúcho foi uma das frentes no embate pelo direito de independência administrativa reclamada pela comunidade: passou a ser impresso no próprio povoado, não mais em Júlio de Castilhos.

Em 1927, ano em que era criada a paróquia de Madre de Deus de Tupanciretã (acontecimento contado com detalhes no livro recém-lançado ‘Paróquia Mãe de Deus – 100 anos de fé e história’, o ideal de emancipação continuava em crescente. A emancipação de Novo Hamburgo serviu como motivação para que Tupaceretan seguisse na busca pela autonomia política.

Em junho desse mesmo ano, o Coronel Pedro Osório, que havia se mudado para Pelotas, manifesta apoio aos ideais de emancipação; inclusive retornando à Tupanciretan para receber homenagens. Na viagem de volta, levava consigo um Memorial contendo mais

de 1000 assinaturas, dirigido ao Presidente do Estado, em favor da emancipação do povoado.

Em 7 de março de 1928, o povoado de Tupanciretan recebe a visita de Getúlio Vargas, o novo Presidente do Estado. Momento chave para que o estado gaúcho visse com os próprios olhos o desenvolvimento do povoado.


A EMANCIPAÇÃO

Com a visita do governador, o movimento de emancipação tomou proporções oficiais. A vila já tinha condições de emancipação, uma vez que a população chegava aos 3000 habitantes e a receita arrecadada, que atingia cifras expressivas, tinha de ser dividida entre Júlio de Castilhos e Cruz Alta.

Assim, em 21 de dezembro de 1928, o atual presidente do Rio Grande do Sul, Getúlio Vargas, assina o decreto de emancipação do município de Tupanciretã




Texto/pesquisa: Leonardo Reis

Revisão: Jefferson da Silveira










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