Na manhã desta quarta (29), o JM Digital conversou com Matheus Ehlers, maratonista tupanciretanense que conquistou o segundo lugar na Ultramaratona 1000 KM Brasil, disputada no interior do estado do Rio de Janeiro.
Matheus, que possui experiência nas provas de corrida de longa distância, iniciou agradecendo aos apoiadores e fãs. Também elogiou o JM Digital pela divulgação do seu trabalho, situação que promove o atleta, e facilita a busca por patrocínio:
- “Agradeço toda a galera pelo apoio e incentivo. Ainda não consegui responder todas as mensagens que recebi, mas, na medida do possível, irei responder”.
A trajetória de Matheus, que culminou na superação da Ultramaratona 1000 KM Brasil, iniciou há mais de dez anos atrás, quando o hoje maratonista começou a se interessar por esportes. Durante a entrevista, o atleta tupanciretanense contou ao JM Digital uma breve retrospectiva de sua carreira:
- “Vamos começar do início. As corridas surgiram, para mim, em 2008. Sempre quis praticar esporte aqui na cidade. E, na época, não tinha muita oportunidade de conseguir achar um esporte. Comecei jogando futsal na Escolinha do Tupan, uma experiência muito boa. De lá, veio o espirito esportista. Em 2008, entrei na equipe de corrida do quartel e aí não parei mais.”
Quatro anos depois, veio a primeira competição na categoria ultramaratona:
- “Em 2012, foi a minha primeira Ultramaratona: 24 horas Santa Maria. Eu nem sabia o que era uma ultramaratona e me inscrevi porque gostava do desafio. Fiz 154 km na minha primeira ultramaratona, e eu nem treinava. Em 2013, voltei à competição e fiz 170 km, sem treinar. Mas sempre busquei informação e conhecimento, apesar de não ser professor de educação física. A informação está para todos, basta buscar”.
De 2013 a 2019, o foco foi em treinamentos e provas para manter o condicionamento físico. Até que Matheus decidiu competir na Cassino Ultra Race, maior ultramaratona de praia do mundo:
- “É uma travessia de sobrevivência, com o atleta levando seus próprios mantimentos, sem apoio nenhum. Lá, conquistei o terceiro lugar geral. E foi nessa travessia que me classifiquei para a 1000 KM Brasil. Sabia que seria uma prova pesada, mas queria ir para lá (1000 KM Brasil) porque acredito que seja o topo das ultramaratonas da América do Sul”.
Então, o atleta da Terra da Mãe de Deus iniciou os treinamentos para competir na maior ultramaratona sul americana:
- “Treinei focado. Foram três anos de preparação, mantendo a média de 20, 30 km por dia. Mudei toda a minha alimentação, mudei toda a minha vida para a prova. Nos últimos anos, acho que durmo umas três horas por noite. Mas acho que todas essas dificuldades só me deixaram mais forte. No mês de junho, fiz em média 50 km por dia: 20 km na esteira, em três etapas, e 30km na rua. Muitos falaram que meus treinos não eram reais, mas tenham certeza que eram, senão eu não teria conseguido cumprir meu objetivo. No inverno, esperava cair a temperatura para sair treinar. Treinava de mochila na BR. Isso tudo é técnica de treinamento. Agora que a galera está acostumada, vou começar a fazer meus treinamentos mais pesados na rua”, afirmou, destacando as 33 empresas que o apoiaram na 1000 KM Brasil.
Então, Matheus Ehlers detalhou os desafios da Cassino Ultra Race:
- “Essa ultramaratona é a maior do mundo feita em praia. O Cassino é a maior praia em extensão do mundo, está registrado no Guinness Book. Prova bem complicada: sai da fronteira com o Uruguai, até a cidade de Rio Grande. Todos os tipos de clima são enfrentados naquela prova: chuva, vento, frio. Na época da travessia, houve sensação térmica de –12°C. Peguei tempestade com vento, chuva, e até tempestade de areia. É necessário saber de tudo um pouco: sutura, primeiros socorros. É um ambiente extremo, e as vezes a organização do evento não vai chegar a tempo”, revelou o atleta.
Chegou o momento de Matheus Ehlers relatar detalhes sobre a maior maratona da América do Sul. Além da distância a ser percorrida pelos atletas, dificuldades de terreno e altitude acompanhavam os maratonistas durante o percurso:
- “Essa prova não era em uma pista, era em volta de um lago, próxima de um morro. Terreno irregular, com muito buraco, cascalho e pedra solta. Era preciso correr forte e medir teus passos, para evitar lesão. Junto dos 100 km diários, acumulávamos também quase 7000 metros de altitude acumulada. No final da prova, foi como se tivéssemos subido 2000 metros além da maior montanha do mundo, o Everest. Foi uma prova bem pesada, não há no mundo prova igual a essa. Ainda bem que tive a oportunidade de participar”.
No decorrer da competição, apenas nove pessoas atingiram os 500 km percorridos na prova, e Matheus estava entre eles. Novamente, o treinamento foi o diferencial:
- “Meus treinos foram fortes. Pesquiso muito sobre ultramaratona, e acreditava que meu treinamento era diferenciado. Estava indo bem tranquilo para a prova. Minha mentalidade não era competir, mas tinha me preparado o máximo, treinando no meu limite. Minha psicóloga esportiva me ajudou bastante para suportar a carga de treinos junto da emoção. Fui preparado física e mentalmente. Inclusive para correr com lesão. Fui fazer a minha corrida, e usar a minha estratégia para chegar à final. Nessa prova, entrei em um estado mental que, quando entrava na pista, pensava na minha estratégia e nada mais. Saber me alimentar, me hidratar. E aí entra meus apoiadores, minha nutricionista”, disse, mostrando o certificado conquistado na Ultramaratona.
Até a edição desse ano, apenas seis pessoas haviam conseguido completar a 1000 KM Brasil. E Matheus entrou nesse seleto grupo de ultramaratonistas de ponta, com índices de destaque:
- “Tenho marcas de 1075 metros em 4m44s, e de 5 km 5h54m. Cheguei também aos 120 km diários”.
Relembrando sua trajetória, e valorizando o apoio recebido dos patrocinadores e comunidade, Matheus Ehlers destacou a importância do esporte nos âmbitos pessoal e comunitário, inclusive revelando a intenção de elaborar projeto social na área esportiva:
- “O esporte transforma a vida de uma pessoa. Como o esporte transformou a minha vida, eu quero transformar a vida de outras pessoas. O esporte é essencial para a cidade, e é isso que eu quero passar para a comunidade. Quero juntar as empresas que estão me ajudando e fazer um projeto social com diversos esportes. Inclusão de crianças, jovens e adultos através do esporte. Estou convidando pessoas de diversos esportes, para nos unirmos e ficarmos cada vez mais fortes. Temos vários exemplos do esporte tirando as pessoas do mau caminho. Esporte ensina educação e cidadania”, disse, revelando conversas com o prefeito no sentido de promoção da prática esportiva.
Matheus também revelou como se deu a conquista de apoio para melhor desenvolver seus treinos e colecionar conquistas em nível estadual e nacional:
- “Fiz trabalho pelas redes sociais, e foi por ali que consegui todos os meus patrocinadores. Montei currículo e fui conversando. A maioria das empresas entendeu que eu estava indo para essa prova buscando muito mais do que troféu e medalha. Eu faço esporte porque eu amo”.
Apesar da paixão pelas corridas, o início não foi fácil. Um maratonista profissional necessita do auxílio de experts de variadas áreas (nutrição, psicologia, massoterapia, entre outras) a fim de alcançar um desempenho de excelência. Para Matheus, o apoio de sua equipe de profissional foi imprescindível para a conquista na 1000 KM Brasil:
- “A missão de conseguir patrocínio é muito difícil. Queria ter boas empresas e excelentes profissionais me apoiando, para que tudo desse certo. Meus apoiadores não se importavam com o resultado, eles queriam era o meu melhor desempenho. Nunca estive sozinho durante a prova: médico, massagista, nutricionista. A minha equipe era a melhor. Existem empresas que nem me conhecem, mas quero ir em cada cidade visitar os apoiadores. Eu treinei forte, mas foi o coletivo que me levou à vitória. Empresas de Tupanciretã, Júlio de Castilhos, Passo Fundo, Santiago, Vacaria, Minas Gerais e Rio de Janeiro”, disse, emocionado, listando as empresas e profissionais que o apoiam.