“Essa situação de seca extrema não acontecia há décadas. O RS é o estado que mais está sofrendo com a questão da estiagem nesta safra. No mês de dezembro, tivemos o encaminhamento de reivindicações, pelos representantes da classe dos agricultores, para os governos federal e estadual. No mesmo mês, o governo federal aprovou lei dando possibilidades de ajuda. Porém, as resoluções a respeito de como a lei será executada ainda não vieram. Até o momento, não tivemos o resultado das ações. A expectativa que temos hoje é mostrar, a cada semana, dados atualizados para as autoridades em nível estadual e federal”.
A busca por apresentar sempre dados atualizados tem o objetivo de fortalecer os argumentos que possam ajudar no envio de auxílio para os produtores:
“Ontem tivemos a reunião do IBGE, atualizando os dados oficiais do município. E também teremos a atualização nos dados da Secretaria da Agricultura e na EMATER, que busca dados também com cooperativas, sindicatos e agrônomos particulares. Temos argumentos e informações suficientes para recebermos respostas dos governos federal e estadual”.
Além da ajuda governamental, o auxílio financeiro também é recurso buscado pelos produtores. Porém, nesse caso, componentes burocráticos acabam dificultando o acesso:
"A cada ano, o processo para realizar o seguro está cada vez mais burocratizado, e grande parte dos agricultores não possui tempo nem estrutura para tal. Além disso, alguns produtores não conseguem acesso a serviços como financiamento. A agricultura familiar tem um percentual pequeno de projeção da renda futura. A maioria sobrevive do meio rural, e não consegue ter economias guardadas”, disse, destacando a necessidade de se evitar o êxodo rural.
O vice-prefeito também ressaltou o fato de que o ciclo da lavoura ainda não foi fechado, situação que acabar por retardar os cálculos finais relativos às perdas:
“Muitas pessoas questionam os dados, mas acontece que o ciclo da lavoura ainda não terminou, por isso, ainda não há como afirmar perda de 100%. E isso impacta nas decisões do governo. Na cultura da soja, temos perdas em torno de 65%, considerando as culturas de todos os ciclos. Tínhamos a expectativa de colher 55 sacas por hectare, e estamos em um cenário entre 15 a 20 sacas. No irrigado, temos perda de 28%. A cada dia que passa, a situação se agrava cada vez mais. Daqui uma semana, a perda deve continuar, pois não há previsão de chuvas boas. Esperamos que as pancadas continuem, para que os produtores consigam, pelo menos, sementes para a próxima safra”, disse, destacando como o calor extremo eleva a temperatura do solo para além dos 50°C, revelando perda de 80% no milho em sequeiro, e de 10% no milho irrigado.
Apesar disso, já é possível estimar os prejuízos causados pela estiagem. E eles estão na casa dos bilhões de reais:
“Em Tupanciretã, as perdas referentes ao milho e à soja giram em torno de R$ 1,2 bilhão. Somando todas as culturas do município, o prejuízo chega aos R$ 2 bilhões. Na produção de leite, já não se fala em perda de produtividade, mas em perda de animais. Passamos das 80 toneladas de silagem enviadas ao interior e três produtores já fecharam propriedades, pois não há leite. São as consequências do prolongamento da estiagem. Na cultura do feijão, a perda está acima dos 60%. Inclusive, não ocorreu sequer o plantio da pequena safra”, disse, revelando que até mesmo os piscicultores tiveram mais de 50% de prejuízo.
Ao final de sua fala, Márcio Dias destacou o impacto da situação rural no município como um todo, e pediu apoio e compreensão da população nesse momento de dificuldades:
“É importante a comunidade entender a situação do seu conterrâneo. Não é somente o meio rural que está perdendo. As perdas do meio rural irão chegar ao meio urbano. Tupanciretã não possui indústria. Hoje, estamos investindo e desenvolvendo nosso município com as arrecadações de 2019. Ou seja, as consequências do que estamos falando hoje não serão para este ano”.