Setembro Amarelo: Psicóloga Andreia Simões fala sobre prevenção, sintomas e tratamento da depressão; VÍDEO
Profissional detalhou comportamentos que ajudam na identificação do quadro depressivo
Publicada em 27/09/2022 às 15:10h | Leonardo Reis - estudante de Letras
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O mês de setembro é dedicado à prevenção do suicídio através da campanha Setembro Amarelo e o Jornal Manchete Tupanciretã também está engajado no objetivo de promover conhecimento sobre o tema a fim de prevenir casos trágicos onde a pessoa tira a própria vida.
Assim, na última segunda (26), o JM Digital conversou com a psicóloga Andreia Simões para saber como detectar um quadro depressivo e também como ajudar aquele amigo ou ente querido que esteja passando por dificuldades.
Atuando com as abordagens TCC (Terapia Cognitivo Comportamental), Logoterapia e TFC (Terapia Focada na Compaixão) e TE (Terapia de Esquemas), a profissional também comentou sobre o tratamento médico para a depressão.
Ao início da conversa, Andreia destacou como a situação de pandemia proporcionou um aumento nos casos depressivos:
“Sabemos que a depressão aumentou durante a pandemia, em função do confinamento que as pessoas foram forçadas a experenciar. No momento, a nível mundial, temos mais de 322 milhões de casos diagnosticados de depressão. No Brasil, há cerca de 11 milhões de pessoas nessa condição, quase 6% da população brasileira”.
Em seguida, a profissional apresentou a definição clínica da depressão, destacando ainda a distimia, conhecida também como depressão crônica:
“Conforme a definição médica, a depressão é caracterizada pela alteração brusca de humor, onde a pessoa sente muita tristeza, desânimo, baixa autoestima, desesperança, sentido alterações também no sono e no apetite, tanto para mais ou para menos. Há também a distimia, também chamada de depressão crônica. Nesse caso, a pessoa faz suas atividades de rotina, mas está sempre deprimida, focando no negativo. Essa depressão é uma das que mais me preocupa, pois como a pessoa segue fazendo suas obrigações, acaba se acostumando com essa condição. Na depressão clássica, os sintomas de desânimo são mais claros”, explicou.
E também comentou sobre a diferença entre a tristeza oriunda da depressão e aquela que faz é componente natural em reação a acontecimentos da vida:
“Também ocorre uma confusão entre a tristeza da depressão e a tristeza em função dos eventos que podem acontecer no cotidiano. Qual a diferença? A tristeza da depressão é aquela que a pessoa não sabe de onde vem. Em casos de luto, por exemplo, é esperado e saudável que a pessoa passe pela tristeza da perda".
As motivações que levam a um quadro depressivo também foram comentadas por Andreia:
"As depressões se dividem basicamente em endógenas e exógenas. As exógenas são em função dos acontecimentos da vida que estão fora do nosso controle. Por exemplo: a perda de um familiar, do emprego. As depressões endógenas, por outro lado, são causadas quando há uma disfunção na questão neuroquímica do cérebro da pessoa. Ou seja, para que sintamos sensações de prazer e alegria, possuímos neurotransmissores que agem para propiciar esses sentimentos. Em um quadro de depressão, esses neurotransmissores apresentam uma bruta queda. Nesse caso, é indispensável o uso da medicação”, destacando que a prescrição de remédios é de responsabilidade do psiquiatra.
Além da falta de ânimo e da tristeza, outros sintomas também são característicos da depressão. A profissional destacou dois deles. O primeiro é a automutilação:
“Quando chega um paciente com sintomas depressivos e que pratica a automutilação, vejo a automutilação como um significado além do ato. É um grande pedido de socorro. Ou seja, a dor é tão insuportável que é preferível ferir meu próprio corpo do que sentir essa dor”.
E o segundo, a raiva:
“A manifestação da raiva costuma ser desconsiderada no quadro de um intenso sofrimento psíquico. Esse comportamento é visto com má-educação, grosseria, mas esse é um dos principais fatores da depressão. Inconscientemente, a raiva é um mecanismo de defesa para não demonstrar o que está sentindo. Se formos aprofundar a análise, provavelmente essa pessoa terá problemas de relacionamento”, destacando que casos de raiva eventuais fazem parte do comportamento normal do ser humano.
Em casos graves de depressão, a pessoa, infelizmente, pode acabar cometendo suicídio. Andreia comentou sobre essas situações, destacando que a pessoa que tira a própria vida, na verdade, não quer deixar de viver:
‘Muitas vezes, não entendemos porque uma pessoa tirou a própria vida. A questão é que o suicídio não, de modo algum, motivado pela pessoa querer se matar. O que a pessoa quer é aliviar um sentimento de dor que já é insuportável. Então, quando a consciência já está em um estado caótico, onde a pessoa não consegue racionar direito, ela acaba cometendo o suicídio”, disse, destacando que falas que destaquem que há pessoas em condições mais difíceis, por mais que tenham a intenção de ajudar, podem até causar uma piora do quadro depressivo.