O tempo feio e emburrado se rendeu a folia, deu uma trégua com a chuva e a Vaz Ferreira foi alegria, descontração, amizade, família, união. Tributos que o desfile de rua passa a todos os efetivos participantes e aos que lhes assistem, independentemente da quantidade, vale muito a qualidade, mesmo com algumas faltas, não deixou de contagiar, ser emoção, principalmente para gente como eu, que ama o Carnaval na avenida com paixão.
Uma paixão que vem desde os 14 anos, vivida na prática até dias atrás, sempre no meu glorioso Salgueiro. Reconheço ter sido ruim de percussão, mas provei ser bom de samba enredo, nesta balada, escrevi alguns para a nossa Escola de Samba. Lembro com propriedade, o quanto é gratificante colocar um samba na rua, dele e por ele, regimentar ou balizar todo o resto, como fantasias, alas, a batida do tambor, o passo do passista, enfim, samba é um projeto conjunto, uma ideia pensada, repensada, ensaiada e testada.Samba, uma identidade do grupo, uma mensagem de amor como: "Na frente da praça, embaixo da lua no meio da rua o samba me abraça, é carnaval pura emoção, Salgueiro, Salgueiro, tu és o primeiro do meu Coração".
Neste período carnavalesco, por coincidência ouvi várias reportagens sobre a criação de um samba, do seu início ao glamour final, avenida e o CD, de fato um estado mágico e indescritível. Eu sei como ninguém a importância do refrão da letra, já queimei muita pestana e procurei refrões ideais ao enredo, almoçando, tomando banho, dirigindo, namorando, rindo e chorando, muitas vezes custaram a sair, mas como o desabrochar de uma flor eles nasciam assim "É carnaval, carrossel de emoção, quem é do samba não esquece, ao Salgueiro, reconhece, no pulsar do coração. Assistindo nosso desfile bem sentado na calçada, como bom expectador e saudosista, encantou-me o esforço dos blocos em manter esta festa popular, ainda que, com todas as dificuldades financeiras, conseguem agregar considerável número de foliões.
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Intriga-me porém, seguranças escudando os artistas da rua, mestre sala de saia, fumaça fedorenta impregnando todo mundo, a diversidade num tom de festa e dança muitíssimo superior a passistas e rainhas. Nenhuma ala de passo marcado, nenhuma coreografia, nada de alas de frente ou velha guarda, além da terceirização das baterias, perdoem-me, nada contra aos ilustres visitantes, eles deram o tom maior e a ginga do puro Carnaval.
A nós com raras exceções, proporcionamos uma caminhada festiva regada de boa ceva muito carente de criatividade, esta se pecando pela simplicidade, a avenida do Carnaval é o palco, o espetáculo não pode perder o brilho e o poder de colocar o povo a sacolejar, se divertir, assistir. Sem sermos pretensiosos, com ajuda de alguns bons amigos e bem intencionados, revolucionamos à Escola de Samba do Salgueiro, inúmeros são os registros das homenagens prestadas e mensagens na passarela, a Vermelho e Branco por anos foi especial, mostrou, cantou e encantou a todos, vem disso o refrão que mais gosto "É Carnaval, samba meu povo, estremece Vaz Ferreira, porque aí, vem Salgueiro de Novo."Você pode até se perguntar, se era tão bom, por que acabou, pois é, pura verdade, mas vamos deixar isso por conta das circunstâncias, Salgueiro teve as suas, acredito que para o futuro ainda possa brilhar, pois, Carnaval tem o poder da renovação, da invenção, do real ao sonho, cabe aos que protagonizam a festa e o desfile, levantarem o estandarte do samba.
Das baterias bem cadenciadas, ficou claro, a orfandade de uma letra, da melodia, da musicalidade, da história cantada, que para o próximo Carnaval possamos escutar vários, dando ritmos diferentes para dentro e fora da rua.Com Salgueiro ou não, Tupanciretã merece um desfile de rua com sambas enredos que caprichem no refrão, eu quero escolher um para torcer, sambar e cantar.