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Tupanciretã

Se diz cria de Tupã mas...

“-ÊTA MAÇÃ.. SE TU NÃO QUER, OUTRO QUER!!!!”

Publicada em 10/03/18 às 15:46h

Nazha Sayed


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Se diz cria de Tupã mas...
Rodoviária velha. Hoje, conjunto de lojas.  (Foto: |Jornal Manchete Tupanciretã Digital)

A estação rodoviária de Tupanciretã/RS ficava no início da  Rua
Antônio Silveira, próxima a Av.Vaz Ferreira  e  ao lado, tinha a Casa
das Tintas e também muitas outras lojas... Principalmente pela manhã, entre 7h até 10 h e à tarde, por volta
 16 h, era um fervo só...

Quem precisava passar por ali, bom seria e bem mais sensato,
atravessar à rua, porque o movimento era muito grande.
Muitos vinham do interior do município para fazerem suas compras,
venderem seus produtos, consultar, ou então, pagar suas dívidas  em
instituições Bancárias espalhadas pela cidade.
Nos homens, notava-se o suor debaixo de seus braços com uma bem
acentuada marca ... barbudos, de bota e bombacha e o velho lenço
maragato sempre, nunca esquecido…Mulheres com crianças, idosos, todos num empurra-empurra até "embarcarem " ou " desembarcarem "na
rodoviária, com sacos de  milho verde, mandioca ou galinhas
....sacolas de brim listrados traziam ovos, vidros de chimia de uva,
pêssego, figo, doce de laranja azeda e o mais puro  mel... tudo era
permitido trazer para vender, permutar, ganhar a vida.
O ônibus Barin, do Léo, do Vitório, Santiago, Planalto, Santa Maria,
Cruz Alta, Porto Alegre A estação rodoviária ficava lotada ... e o povo, com muitas compras,
cheirando a suor e a um gole de pinga merecidamente tomado no  bar da
rodoviária, que sempre ficava lotado e  era  muito oportuno, pois
enquanto matavam a sede, esperavam o ônibus "estacionar", para
retornarem aos seus lares, ou iam direto ao gole de canha, logo que
desembarcavam.


 O Sr. Bento Patias e família vendiam as passagens manuscritas,
depois, preenchia uma folha tipo planilha tudo isso,   atrás de um
balcão como uma altura considerável, tendo azulejos como decoração na
frente., enquanto os passageiros esperavam em filas, em meio ao vai e
vem de tanta gente,


Parece que estou vendo o Sr. Bento Patias com seus óculos quase na
ponta de seu nariz pegar o bloco de passagens, de uma cor amarelada,
escrever com sua letra inconfundível e para mim, muitas vezes,
inelegível, cobrava e finalmente destacava entregando ao passageiro,
olhando-o firmemente e dizendo para que tivesse uma "Boa viagem".
Somente então, transcrevia para a planilha os dados da passagem ora
vendida, que ficava afixada nessa prancheta.


 Muitos vendedores andavam por ali, mas um em destaque o qual não
recordo o nome, apenas o seu jeito der ser, de caminhar, suas
roupas... e.… o de oferecer Maçãs....


Vendia maçãs, um homem baixinho, também de bombacha  cor marrom de
tergal, …maçãs delicadamente colocadas em cestos de vime, uma em cada
braço... era o seu ganha pão...o seu trabalho,
Tinha um caminhar engraçado, rápido com alguns pulinhos, também suado,
ficava ele em volta dos ônibus, janela por janela, na calçada quando
lhe permitiam, mas seu forte eram as janelas dos ônibus que ficavam
para o lado da rua... apenas os carros lhe importunavam, quando
cuidadosamente desviavam para não o atropelar. Ficava ele oferecendo
suas maçãs.
Quando alguém não queria, automaticamente respondia:
"-Tu não quer, outro quer..."
E continuava a peregrinação de janela em janela:
"-Êta maçã... se tu não quer, outro quer..."
E assim ganhava a vida honestamente, vendendo maçãs na antiga Estação
Rodoviária de Tupanciretã...


Os anos se passaram, a vida me deu caminhos diferentes dos meus irmãos
e então, saí de Tupanciretã, perdi contatos, deixei de ver e ouvir o
"Êta Maçã, Se tu não quer, outro quer..."
Hoje sei que deixei para trás as lembranças de uma pequena rodoviária
e com ela, pessoas que fizeram parte de minha infância e
adolescência...
A Estação rodoviária mudou-se para próximo do hospital, mas ficou na
lembrança o agito da antiga estação, o bar sempre lotado, o velho
balcão e a família que ali vendiam as passagens...
O vai e vem dos ônibus, do Barim... do Vitório e do Léo....
O rostinho das crianças suadas e com o nariz escorrendo, o pai também
suado, um misto de calor e outro transpirando pelo gole de trago que
há pouco havia ingerido.... Mas sem tirar o velho lenço maragato do
seu pescoço…e a mãe, com um pequenino ainda de colo, outro no ventre e
um terceiro segurando a barra de seu vestido. Olhar triste, cheia de
desconforto, mas mostrando para todos de que era mãe e que dos filhos
cuidava ela. E de tudo e até das velhas sacolas de lona listradas que
retornavam agora cheias de outros mantimentos típicos para o sustento
de quem morava no interior.
Ficou na minha mente, a calçada lotada e o empurra - empurra de um
povo que eu sei que no fundo, eram felizes... sem luxo e sem
preconceitos...
Ficou na lembrança, o vendedor de maçãs …sua persistência e
honestidade, seu jeito de oferecer maçãs  e o seu conformismo com o
velho jargão:" - Se tu não quer, outro quer..."
A lembrança de quem lutava para vender, em meio à crise, ao
desemprego, às adversidades da vida...Um valente homem, um
empreendedor de uma época em que eu mal sabia o que significa tudo
isso, muito menos administrar...
E o completo jargão por mim jamais esquecido:
"-ÊTA MAÇÃ.. SE TU NÃO QUER, OUTRO QUER!!!!"
Exemplo!!!!!!

Nazha Sayed
                                                  Camboriú SC, 01/Outubro-2017










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