Anos atrás vizinhei com um cidadão muito excêntrico, boa gente, camarada, entre suas atitudes engraçadas, lembro-me bem das suas galinhas atadas pelos pés e o tratamento especial aos papagaios, muitos gatos e cachorros. O amigo também era caminhoneiro e muitas vezes o vi trocar o conforto da sua casa para dormir na boleia do seu possante, estacionando na rua, carregado de algum produto, carecendo de seus cuidados.
Senti bem claro o seu gosto e fascinação por esta dignificante e sofrida profissão, dele ouvi várias e boas histórias com relação a esta árdua tarefa, porém, o que mais me impressionava era seus longos discursos na beira da cerca, pelo valor das peças, mão de obra mecânica, das filas e filas enfrentadas, preço dos fretes e do combustível.
O que mais recordo agora, neste momento de crise, era seu estilo efusivo de conclamar greve geral de todos os caminhoneiros para "Parar o Brasil" ele pregava em alto e bom tom a teoria do caus.
Eu, em nenhum momento poderia imaginar que aquele matuto poderia ter razão, poucas vezes pensei nestas possibilidades, nunca me toquei que o país dependesse tanto de pneus, somos essencialmente uma nação rodoviária, este modal de transporte é tipo sangue nas veias.
Hoje com tudo que está acontecendo, prejuízos, incertezas, falta de bom senso, fragilidades, desabastecimentos de remédios, insumos e demais tipos de mercadorias, aliado ao fechamento das empresas, indústrias, escolas, lojas, supermercados, revela-se um golpe fatal.
Na falta de estrutura de planejamento estável para este setor importante da economia e vida circulante de bens e serviços. Nunca vi antes, algo rápido e tão influenciável na sociedade brasileira como esta paralisação, colocando o governo e instituições na maior saia justa.
Fica a alerta que o povo está sentindo muito a falta de governança responsável, equilibrada, igualitária, honestas, transparentes e que some a todos, dentro das devidas proporções e não mais o descalabro da corrupção subsidiando uma minoria e surrupiando nossa economia e estruturas de serviços públicos, não condizentes com a carga tributária que se paga.
Penso que a greve até certo ponto representou muito bem o povo Brasileiro, são inconcebíveis os preços dos combustíveis na atualidade, quando se tinha uma Petrobras, orgulho para o mundo. A nação que se abdicou de outros transportes, devia no mínimo, se preparar para ser eficiente neste sentido e digna da frota automotiva que possui, tendo visão futurista de que uma paralisação destas teria poder de um tsunami devastador.
Penso que governo cedeu e fez o que pode, aceitou a pauta dos caminhoneiros e acordou itens importantes, mesmo sem representatividade nenhuma, manteve-se firme e medidas tomadas visaram também à soberania nacional, arranhada pela intenção de alguns oportunistas e aproveitadores, que através do movimento desejam a queda do governo e a intervenção militar.
Precisamos ainda uma greve geral na alma e na consciência patriótica, este Brasil é grande e forte, precisa é norte, ordem, progresso e governos decentes. Os caminhoneiros já nos mostraram como é fácil à desestruturação, todo mundo viu que em poucos dias ficamos sem o básico quando eles param.
Portanto, querido amigo e vizinho "Lele" você estava absolutamente certo, desculpe por eu achar que fosse um maluco. Respeitem esta classe de caminhoneiros e todas as outras, respeitem o povo, respeitem a democracia, viva a vida e Roda Brasil.
Abraços.