Professor Geraldo Salgado comenta sobre a descoberta de nova espécie de vespa
Inseto identificado pelo biólogo tupanciretanense habitava a região de Santa Maria e recebeu nome científico em homenagem a Camobi
Publicada em 17/02/2022 às 12:21h | Leonardo Pinto dos Reis
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(Foto: JM Digital)
O JM Digital conversou com o biólogo Geraldo Salgado, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sobre descoberta científica feita pelo acadêmico tupanciretanense recentemente publicada no Brazilian Journal of Biology (Jornal Brasileiro de Biologia). Trata-se de uma nova espécie de vespa que habitava a região de Santa Maria, de nome científico Horismenuscamobiensis.
O professor Geraldo revelou os primeiros procedimentos da pesquisa, os quais revelaram indícios da existência de uma nova forma de vida:
“Foi um trabalho de 20 anos. Durante o mestrado, coletávamos no campo essas lagartas, que eram consideradas pragas agrícolas. Quando as lagartas formavam o casulo, ao invés de sair uma borboleta ou mariposa, saía uma vespa, que era desconhecida. Uma espécie nova. Porém, na época eu ainda não sabia os métodos para realizar essa descrição. Então, coletamos grandes quantidades e armazenamos em câmara. 20 anos depois, conseguimos a descrição. Tive a ajuda de muitas pessoas nesse processo”, explicou Geraldo, citando a ajuda de cientistas de outros países.
Então, o biólogo apresentou as características da vespa a qual estudou por 20 anos:
“É uma vespa de coloração azul metálico, com pernas brancas. Sendo um membro do grupo hiperparasitóide, que mata e controla o corpo do hospedeiro, sendo que esse hospedeiro também possui comportamento parasita. Ela é interessante porque põe ovos dentro do casulo de outro inseto, as cotésias, que, por sua vez, são parasitas das Opsiphanes, conhecidas por serem pragas de palmeiras como os jerivás, o butiá e o coco. Até agora já descrevi cerca de dez novas espécies de vespas desse grupo”.
(FOTO: Brazilian Journal of Biology)
O nome científico do inseto,Horismenuscamobiensis, remete ao nome do bairro santamariense de Camobi. Geraldo Salgado, que definiu o nome da nova espécie, explicou o motivo da escolha:
“Tive o prazer de batizar essa vespa como Horismenuscamobiensis, em homenagem a Camobi. No processo de dar esse nome, é preciso justificar a escolha. Então, tive de explicar o que é Camobi. Trata-se de um termo guarani que significa ponta do seio, em referência aos morros da região onde vivia a vespa”.
Porém, devido ao uso das espécies de árvores onde vivia a vespa para o paisagismo, o inseto se tornou uma praga e não tem sido mais encontrado:
“No momento em que o jerivá é plantado um ao lado do outro, a espécie da vespa se transformou em praga, pois realmente desfolha a árvore. Então, devido ao uso do baculovírus, a espécie acabou desaparecendo”.
O processo de regularização para a oficialização da nova espécie também foi descrito pelo especialista em Biologia:
“Hoje em dia, a descrição é feita também por análise do DNA do animal. E assim, podemos organizar um sistema de comparação genética, e descobrir se a espécie é realmente nova, e quando que ela surgiu. O próximo passo é necessário realizar o tombamento em museu de um casal da espécie, o qual é anexado à descrição. Então, no artigo, é necessário explicar os pontos onde essa vespa é diferente das outras, comprovando o porquê de ela ser uma nova espécie. Depois, é preciso batizar a nova espécie, com um nome científico em latim”.
Em época de estiagem, o biólogo ressaltou a importância da preservação ambiental para que a região do Rio Grande do Sul siga recebendo água:
“Hoje em dia, temos de usar a produtividade aliada à preservação. A região de Tupanciretã possui ao sul a Patagônia, uma região de deserto. Então, nós só temos água devido aos chamados rios flutuantes, que trazem a chuva da Amazônia”, explicou.